sábado, 26 de dezembro de 2015

Estudo Bíblico A Família e a Escola Dominical


Estudo Bíblico A Família e a Escola Dominical 


Texto Áureo: Dt. 31.12 – Leitura Bíblica: Ne. 8.1-7


INTRODUÇÃO 

A Escola Bíblica Dominical (EBD) é uma das maiores agências de ensinamento da igreja, mas, infelizmente, ainda pouco valorizada. Na aula de hoje estudaremos a respeito da importância da EBD, principalmente para as famílias cristãs. Antes trataremos sobre sua história, e por fim, sua vasta contribuição para a formação de pessoas comprometidas com a Palavra e o Reino de Deus. Esperamos que a aula de hoje sirva de despertamento, principalmente para a liderança da igreja, a fim de que esta perceba o valor dessa escola para a formação da família, e, por conseguinte, de obreiros.


1. A ORIGEM DA ESCOLA DOMINICAL 

A Escola Dominical como conhecemos hoje é resultado da contribuição do jornalista anglicano inglês Robert Raikes. Preocupado com a situação social das crianças inglesas em Glaucester, decidiu ocupa-las aos domingos, para não se envolverem com vícios. Isso porque, em decorrência da revolução industrial, as crianças trabalhavam nas fábricas durante a semana, mas ficavam ociosas nesse dia da semana. A alternativa foi criar uma escola gratuita, com a ajuda do Rev. Thomas Tock, ministro anglicano, que conseguiu matricular cem crianças, com faixa etária entre seis a quatorze anos de idade. O objetivo principal da Escola Dominical era trabalhar o desenvolvimento do caráter dessas crianças através do ensinamento bíblico. Inicialmente a Escola Dominical era uma atividade paraeclesiástica, que funcionava na Rua Saint Catharine, como uma obra social. Algumas crianças não queriam vir para a Escola Dominical porque suas roupas eram estavam rotas. Raikes providenciou roupas novas e material de higiene para que elas não se envergonhassem de frequentar aquele instituto infantil. As aulas iniciavam às 10h e prosseguiam até às 14h com aulas bíblicas e também de matemática, história e inglês, com intervalo de uma hora para o almoço. Após a aula as crianças eram conduzidas à igreja, onde recebiam ensinamento doutrinário até às 17h30min. A Escola Dominical surtiu um efeito tão positivo que levou Raikes a divulgar seu resultado em seu jornal no dia 03 de novembro de 1783, data em que se comemora, no Reino Unido, o dia da fundação da Escola Dominical. Em 1784 a Escola Dominical contava com 250 mil crianças matriculadas, como resultado, a criminalidade em Glaucester caiu. O trabalho causou tanto entusiasmo que acabou sendo copiado em outros países, inicialmente nos Estados Unidos. A igreja anglicana não aceitou de bom grado o movimento da Escola Dominical, justificando que se tratava de um ensinamento realizado por leigos. Houve uma solicitação, no parlamento inglês, em 1800, para que as escolas dominicais fossem interrompidas. Quando Raikes faleceu, 1811, de um ataque de coração, 400 mil alunos estavam matriculados nas diversas escolas dominicais do mundo. Nesse mesmo ano a Escola Dominical se abriu para adultos, criando, assim, a divisão em classes. A Escola Dominical foi fundada no Brasil em 19 de agosto de 1855 pelo casal de missionários escoceses Robert Sarah Kalley, na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Apenas cinco crianças assistiram aquela primeira aula, que, posteriormente, se espalhou para o Brasil inteiro através das várias denominações evangélicas.


2. A IMPORTÂNCIA DA ESCOLA DOMINICAL 

A Escola Dominical moderna surgiu através de uma necessidade social, mas, sobretudo, espiritual. Seus princípios remetem ao período bíblico, tendo em vista que Deus, já no Jardim do Éden, deu instruções claras ao primeiro casal (Gn. 3.8-11). Posteriormente, Deus delegou aos pais a responsabilidade de transmitirem aos filhos a Sua Palavra (Dt. 6.7-9). Com o passar do tempo, e em decorrência da institucionalização da religião judaica, os sacerdotes também assumiram essa tarefa (Dt. 24.8), e também os profetas (Is. 6.8-10; Jr. 11.1-4). Os reis piedosos reconheciam a valor do ensinamento da lei de Deus, para tanto favoreciam as condição para que a instrução acontecesse (II Cr. 17. 7-9). O despertamento para a exposição da palavra sempre resultou em despertamento espiritual, tanto na história de Israel quanto da Igreja. Exemplo disso é o grande avivamento judaico após o cativeiro babilônico, nos tempos de Esdras e Neemias (Ne. 8.1-9). No Novo Testamento, Jesus é o exímio exemplo de ensinador, não por acaso era reconhecido como Rabi, Mestre (Jo. 3.2). Após Sua morte e ressurreição, Jesus comissionou sua igreja a fazer discípulos em todas as nações (Mt. 28.19). Esse é um dos principais objetivos da Escola Dominical, ensinar tudo aquilo que Jesus fez e ensinou (At. 1.1,2). Mas muitas igrejas, inclusive obreiros, deixam de dar o devido valor à Escola Dominical, colocando-a em segundo plano. A obsessão por um crescimento meramente quantitativo tem distanciado muitas igrejas da visão de discipulado ensinada por Jesus. O descaso com a Escola Dominical pode ser percebida, por exemplo, pela ausência da liderança nas aulas. Antigamente esse era o principal instituto de formação de obreiros. Os candidatos ao ministério não eram consagrados a menos que fossem alunos assíduos da Escola Dominical. A realidade tem sido cada vez mais modificada, a própria arquitetura das igrejas não considera a Escola Dominical. Existem espaços para as multidões, mas não há salas de aulas preparadas para receber seus alunos. Os professores são escolhidos não pelo esmero para ensinar (Rm. 12.7), mas pela proximidade com algum líder da igreja. Na verdade, a frequência na Escola Dominical deveria ser um critério para a escolha de pessoas para atuar em todos os trabalhos da igreja. A Assembleia de Deus não tem ainda uma tradição consolidada no ensinamento bíblico em institutos. Por isso, a Escola Dominical, na maioria dos casos, funciona como o último reduto para a formação de líderes. As Escolas Bíblicas, outrora realizadas por vários dias, são realizadas atualmente em apenas um final de semana, deixando muito a desejar. Sem um ensinamento consistente e sistemático da Bíblia estaremos fadados a uma liderança franca, levada por qualquer vento de doutrina, que não maneja bem a palavra da verdade (II Tm. 2.15).


3. A FAMÍLIA NA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL
 

As famílias também precisam aprender a valorizar a Escola Dominical como recurso institucional para formação bíblica dos membros da Igreja. O currículo da Escola Dominical favorece um ambiente que assiste a todas as faixas etárias da igreja. A família inteira pode ser abençoada através da instrução bíblica na Escola Dominical. Há currículos para as crianças, bem como para jovens e adultos. A Escola Dominical é um instrumento valioso que contribuiu para o cumprimento de Pv. 22.6 na vida das crianças. Os jovens também podem aprender, através da Palavra de Deus (Sl. 119.9), a fugirem do pecado (II Tm. 2.22). Isso porque como estava escrito na contracapa de Bíblia de Dwight Moody “ou este livro me afastará do pecado ou o pecado me afastará deste livro”. Os jovens evangélicos de hoje carecem de formação bíblica, os adultos também. As pesquisas revelam que os evangélicos da atualidade não sabem sequer encontrar passagens na Bíblia. Há quem não saiba, por exemplo, se determinado livro se encontra no Antigo ou Novo Testamento. Existe um movimento forte na igreja evangélico em prol da ortopraxia, isto é, de uma vida cristã condizente com a verdade. Mas é pouco provável que tenhamos ortopraxia sem uma ortodoxia firme (Fp. 4.9). Aqueles que se integram às igrejas somente poderão fazer aquilo que forem ensinados (II Tm. 3.16). É a partir do conhecimento revelado, e da intimidade com Deus que desenvolverão o fruto do Espírito (Gl. 5.22). Para que os crentes possam produzir frutos, é necessário que esses permaneçam em Cristo, a Videira Verdadeira (Jo. 15.1-16). Ele é a Palavra, devemos ouvi-LO, caso contrário, não passaremos de cristãos nominais, descompromissados com a fé genuína, uma vez foi entregue aos santos (Jd. 3). A ilusão das igrejas numerosas está causando um terrível mal ao movimento evangélico brasileiro. O crescimento numérico está contribuindo apenas para um acúmulo de gente, descompromissada com a Palavra, que não podem ser chamadas de discípulos de Cristo, pois se negam a carregar a cruz (Mt. 16.24). A igreja deve estimular as famílias a frequentarem a Escola Dominical, mas ao invés de apenas enviarem seus filhos, os pais devem ir também, conduzindo seus filhos no caminho, dando o exemplo.


CONCLUSÃO 

Em alguns arraiais evangélicos já se fala na falência da Escola Dominical, mas nem todos acreditam nessa falácia. Todos aqueles que reconhecem seu valor inestimável, continuam a defendê-la, e a trabalharem por ela. Se existe um trabalho na igreja que merece investimento, inclusive financeiro, é a EBD. O retorno pode não ser financeiro, muito menos imediato, mas renderão dividendos preciosos no futuro para o serviço cristão, sobretudo, para a eternidade. Pais e mães, a família e a igreja como um todo, não devem medir esforços para fortalecer a Escola Dominical na sua congregação.


BIBLIOGRAFIA


HANDRICKS, H. Ensinando para transformar vidas. São Paulo: Betânia, 1991.
GILBERTO, A. Manual da Escola Dominical. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.

Autor: Prof. José Roberto A. Barbosa
Por Wilmar Antunes

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Crescimento Sem Profundidade


O estado da igreja evangélica atual
Acabo de ler o último livro de John Stott (1921-2011). Publicado em 2010, O Discípulo Radical traz o adeus singelo e carinhoso do teólogo inglês: “Ao baixar minha caneta pela última vez (literalmente, pois confesso não usar computador), aos 88 anos, aventuro-me a enviar essa mensagem de despedida aos meus leitores. Sou grato pelo encorajamento, pois muitos de vocês me escreveram”. Algumas linhas adiante, despede-se ele de seus amigos e discípulos: “Mais uma vez, adeus”. O livro não é só despedida; é um alerta grave e urgente à nossa cristandade. Ao descrever o perfil da igreja evangélica atual, o irmão Stott, já bastante apreensivo, preferiu ser econômico nas palavras: “Crescimento sem profundidade”.

Constranjo-me a concordar com a análise de Stott. Sei que não devo generalizar, pois ainda há rebanhos sadios e bem nutridos. Mas a verdade é que nunca as igrejas estiveram tão cheias de crentes tão vazios. O que está acontecendo conosco? De imediato, seja-me permitido apontar dois fatores que vêm orfanando os filhos de Deus: a substituição do Cristo eterno pelo Jesus secular e a retirada da cruz da mensagem evangélica.


Ao invés do Cristo eterno, o Jesus secularO maior inimigo de Cristo na presente década é o Jesus que nós, evangélicos, criamos no século passado. Parece que, no armário de nossa teologia, há sempre um “Jesus” pronto a justificar-nos todos os disparates e ambições. Tal Jesus, porém, está longe do Cristo morto e ressurreto do Evangelho. O interessante é que, há bem pouco tempo, não poupávamos ataques ao Jesus comunista da Teologia da Libertação. Mas acabamos por inventar um bem pior. Capitalista e terreno, nosso Jesus desenvolveu uma ação preferencial pelos ricos, e já não se acanha em especular na bolsa dos valores invertidos e efêmeros. Ele induz o povo de Deus a transformar pedras em pães, a saltar do pináculo do templo e a curvar-se ante o príncipe desta geração – o maldito e perverso Mamom.

Na promoção do Jesus capitalista, alguns mestres e doutores estão tornando o rebanho de Deus dependente de um cristianismo sem Cristo: é o ópio do atual evangelicalismo. Não foi essa, porém, a mensagem que Paulo expôs aos coríntios. Professando estar comprometido com o evangelho genuíno e radical, escreve o apóstolo: “Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2).

Se quisermos um crescimento com profundidade, temos de nos voltar, com urgência, ao Cristo anunciado pelos santos apóstolos: morto, crucificado e ressurreto. O Jesus do Calvário é insubstituível e inimitável.


Ao invés da Palavra de Deus, a palavra do homemQuem prega um Jesus diferente do Cristo apostólico acabará por expor um evangelho estranho à mensagem da cruz. Assim como a Lei de Moisés nada era sem os Dez Mandamentos, de igual modo o Sermão do Monte: de nada nos valerão suas bem-aventuranças sem as reivindicações éticas do Mestre. Logo, não posso aceitar uma mensagem politicamente correta se, profeticamente, for inconsistente e permissiva. Afinal, fomos chamados a atuar como homens deDeus e não a representar como homens do povo. Nosso compromisso é com a Palavra de Deus.

Na ânsia por aumentar seus rebanhos, há pastores que retiram a cruz de suas mensagens, tornando-as mais palatáveis. Já descompromissados com o Sumo Pastor, não mais falam o que os crentes necessitam ouvir, mas o que os seus clientes querem escutar. Se estes não mais suportam a sã doutrina e, acriticamente, consomem o que lhes chega ao aprisco, por que se afadigar em servir-lhes o genuíno alimento espiritual? Ao invés do texto bíblico, um pretexto casuístico e oportunista. Não sei que nome dar a esse tipo de sermão. De uma coisa, porém, não tenho dúvidas: deve ser muito eficiente, porque infla as igrejas e engorda os rebanhos. Nesses currais, porém, as ovelhas não são fortes: são obesas de si mesmas. Embora comam muito, alimentam-se mal. Acham-se à beira da inanição. A mensagem pode ser eficiente, mas é ineficaz para nutrir as almas que anseiam por Deus.

Em toda a história da Igreja Cristã, nunca se consumiu tantos livros e sermões. E, apesar disso, nunca se viu tantos crentes gordos de si e magros de Deus. Essa gente enche os templos e inflaciona as estatísticas, gerando um crescimento raso.

Não sou contra o aumento do rebanho de Cristo. Se o Evangelho é pregado é natural que se distendam os redis. Haja vista a Igreja Primitiva. Passados trinta anos, desde o Pentecostes, as conversões multiplicaram-se em Jerusalém, tomaram toda a Judeia e Samaria, alcançando os confins da terra. Aliás, havia convertidos até mesmo na casa de César. Mas era crescimento profundo e radical – enraizado na doutrina dos santos apóstolos.

Só pode haver crescimento genuíno com maturidade espiritual. Há uma grande diferença entre o fruto que por si mesmo amadurece e o que é posto na estufa. Este pode ser até maior, mas jamais terá a doçura daquele. Infelizmente, muitas igrejas tornaram-se estufas de crentes. Suas mensagens, geradas em eficientes departamentos de marketing, engrandecem o homem e diminuem Deus, exaltam a bênção e humilham o Abençoador, menosprezam a doutrina da santificação por já não prezarem o santíssimo Deus.


Aferindo a qualidade do rebanho de CristoTemos de aferir nossa qualidade não pelas estatísticas, e, sim, pela doutrina dos apóstolos. Antes recorríamos à Bíblia e, humildemente, cotejávamos a nossa vida de acordo com a Palavra de Deus. Hoje, buscamos os gráficos do IBGE e nos aborrecemos quando nossas expectativas não são cumpridas. Dessa forma, viemos a substituir o imperioso “ide” do Mestre por metas empresariais. E, sempre que estas são batidas, distribuímos galardões: reajustes salariais, viagens e presentes. Se continuarmos assim, não estou certo se haverá alguma coisa a recebermos no Tribunal de Cristo, pois a nossa premiação eterna já está sendo usufruída no tempo.

John Stott não estava errado. A igreja evangélica cresceu e já é contada aos milhões. Somos, de fato, um oceano vasto, azul e belo. Infelizmente, tal oceano pode ser atravessado com as águas pelos artelhos. Quem dera fôssemos como o poço de Jacó! Não tinha a boca grande nem arrogante. Sua profundidade, contudo, era insondável. Para que isso venha a acontecer, faz-se urgente que voltemos ao Cristo de Deus, e deixemos de lado os “jesuses” que, todos os dias, tiramos de nossa prateleira teológica. Além disso, faz-se urgente recolocarmos a cruz em nossas mensagens.

Se agirmos assim, nosso crescimento terá a profundidade do rio de Ezequiel. De caudaloso e insondável, terá de ser transposto a nado. Basta de pregarmos o que o povo quer ouvir. Falemos o que as pessoas precisam escutar. Além do mais, na Igreja não temos clientes, mas ovelhas ansiosas por ouvir o Bom Pastor.

Autor: Pr Claudionor de Andrade
Por Wilmar Antunes