Não existe solidão mais triste do que aquela que se sente no meio da multidão. Ver-se rodeado de gente e não ter vínculo com ninguém dói tanto quanto aquela dor que deve sentir quem morre de fome diante de um prato de comida que não consegue alcançar, ou não pode comer por um motivo qualquer. Ou morrer de sede diante de um copo de água, mesmo que seja uma miragem num deserto. A multidão passa, caminhando apressadamente pela vida e não é atingida. Não se fala com multidão, fala-se com pessoas. Para a multidão faz-se um discurso, quando ele é necessário e para quem pode fazê-lo. Muitos bons oradores são solitários, aprenderam uma técnica que não conseguem colocar em prática. Mas, mesmo um belo discurso não aproxima pessoas. O bloco humano que corre diante dos olhos se torna como um rio caudaloso que não se consegue conter, o que resta é apenas tornar-se parte dele.
Esse isolamento no meio de um mundo de gente é complicado demais para entender, portanto, difícil de explicar, mas é tão comum no decorrer da história da humanidade! Pensamos nas “doenças” atuais, que grassam como verdadeiras epidemias, sem sequer pensar que elas acompanham o homem desde que o mundo é mundo e são consideradas causa ou consequência da solidão. Que muro intransponível provoca o isolamento do homem num nível tão elevado que o torna um ser à parte do grupo em que vive e se sente tão sofrido e abandonado?
O homem nasce para viver em grupo, se ficar sozinho morre. Não existe um “filhote” mais indefeso do que a cria do homem. Precisa de ajuda para se movimentar, pois não consegue sair do lugar, e até começar a andar, os cuidados da mãe ou de alguém são imprescindíveis para se limpar, para comer, para tudo. É incapaz de sobreviver sozinho. Já nasce precisando de gente. E precisando de amor.
Contudo, o homem nasce só. É o momento de maior solidão da sua vida. Expulso do aconchego de um ninho confortável, quentinho, com todas as necessidades satisfeitas, de repente, chega o momento em que é espremido, sai do escurinho gostoso em que se encontra e dá de cara com uma luz intensa que lhe machuca os olhos, que nem sabia que tinha, e muitas vezes leva um tremendo tapa para começar a respirar, o que também não precisava fazer. Frio, dor, solidão. Isolado do seu cantinho bom, onde ouvia algumas vozes, por vezes amorosa, em outras nem tanto, a experiência da dor do nascimento é só dele. E morre só.
A morte é sempre solitária. Com dores, sofrimentos por vezes intensos, amenizados pelos recursos modernos que a medicina providenciou, outras vezes rapidamente, e pensamos que sem se dar conta, é também uma experiência pessoal e única. Ninguém pode ajudar ninguém a morrer. Pode tornar o processo mais rápido e menos dolorido, mas também da mesma forma, ninguém pode morrer por ninguém. Cada um nasce e morre por si e para si mesmo. Mas, e no percurso entre o nascimento e a morte? Essa solidão intensa precisa persistir na vida do ser humano?
Muitos muros são erguidos entre as pessoas no decorrer da vida. Creio que o maior e mais difícil de ser derrubado é aquele que a pessoa que mais deveria ser responsável para auxiliar a transpô-lo se recusa a fazer, seja por quaisquer motivos, a mãe. A primeira solidão é a mãe que preenche. Ou alguém que a substitua com o mesmo amor. Crianças criadas em orfanatos, que não tem contato físico com uma pessoa amorosa, mesmo que recebam os cuidados básicos para a sobrevivência, se tornam tristes e doentes. E assim vai. Outras barreiras são levantadas, e a cada uma, a distancia entre as pessoas vai se alargando, até que se torna impossível aos olhos humanos uma cura completa. A distância, que não é física, fica imensa. O braço estendido não consegue alcançar o outro. Até que não se estende mais o braço. É a solidão no meio da multidão. Quantos sofrem ou sofreram desse mal, e talvez nem se apercebam dele? Buscam tratamentos, ajuda com remédios, nunca se venderam tanto antidepressivos como atualmente. Vivemos era do Prozac. É o remédio para a infelicidade. Pobre de quem não tem dinheiro ou outros recursos para obtê-lo. No entanto, ele é tão barato e acessível a todos! A cura para a solidão é o amor.
O amor de outro, tão carente quanto o solitário, o amor tão precioso que recebe quem o busca no lugar certo, aquele que preenche o coração de todos e elimina todas as distancias que possam separar seres humanos é o amor que Deus nos deu em Jesus Cristo. Ele, sim, morreu por nós, em nosso lugar. Esse amor nos insere na multidão, não como fazendo parte dela e seguindo o seu curso, mas que nos torna integrantes e abertos para o outro. Porque nos abrimos para Deus, o nascimento pode ser solitário como todos, mas o percurso da vida não é, e a morte, inevitável, não será. Entretanto, o que interessa agora é a vida, uma vida produtiva e rica em relacionamentos.
Vivemos num mundo real, onde os muros se erguem a cada instante. Os relacionamentos se tornam a cada dia mais difíceis, as pessoas se fecham por medo, ou por razões que, para cada um, são importantes, e muitas nem experimentam a alegria de serem felizes e terem uma vida rica em trocas significativas e importantes para o crescimento. A distância para encontrar a alegria de viver é da distancia de um braço, só que dirigido para o lugar certo. Em direção a Jesus, cuja luz preenche todas as cavernas escuras da solidão.
Autor: Sonia Benetton
Fonte: EstudosGospel.Com.BR
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