O ser humano tem a tendência de permanecer inativo até ser influenciado por alguma emoção: amor ou ódio, desejo, esperança, temor etc. Essas afeições representam o "princípio da ação", aquilo que nos impulsiona, que nos faz agir.
Quando olhamos para o
mundo, vemos pessoas extremamente ocupadas. As emoções mantêm-nas ocupadas. Se
pudéssemos retirar a emoção das pessoas, o mundo ficaria imóvel e inativo; não
haveria mais atividade. É o sentimento chamado "cobiça" que impele
alguém a buscar vantagens mundanas; é o sentimento chamado "ambição"
que induz alguém a buscar glória humana; é o sentimento chamado "lascívia"
que leva a pessoa a buscar prazer sensual. Assim como os sentimentos mundanos
são o princípio de ações mundanas, os sentimentos religiosos (Afeiçoes santas)
constituem o princípio de ações espirituais verdadeiras.
Quem possui apenas
conhecimento de doutrina e teologia — sem afeição santa — nunca se entendeu a verdadeira religião.
Não há nada tão claro quanto isto: nossa prática religiosa tem sua raiz
unicamente dentro de nós, até onde as emoções nos levam. Milhares de pessoas
ouvem a Palavra de Deus, tomam conhecimento de importantes verdades acerca de
si mesmas e de sua vida, mas nada do que ouvem exerce efeito sobre elas, sua
maneira de viver não muda.
A razão é esta: eles
não são afetados por aquilo que ouvem. Há muitos ouvem a respeito do poder, da
santidade e da sabedoria de Deus, de Cristo, das coisas maravilhosas que ele
faz e de seu convite gracioso. Entretanto, permanecem exatamente como estão, na
vida e na prática.
Sou ousado em dizer
isso, mas acredito que ninguém jamais mudou por causa da doutrina, de ouvir a
Palavra de Deus ou pelo ensino ou pregação de outra pessoa, a não ser quando
esses meios atingiram os sentimentos. Ninguém busca a salvação, clama por
sabedoria, luta com Deus, põe-se de joelhos em oração ou foge do pecado se tem
o coração insensível. Em resumo, não haverá nenhuma grande conquista pelos
instrumentos da evangelho se o coração não estiver profundamente afetado por
eles.
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