sábado, 31 de março de 2012

O verde do qual preciso - Roque Schneider

O verde do qual preciso - Roque Schneider:
Gosto de verde. Não sei viver sem ele.

O verde me encanta e fascina, festa para os olhos e o coração.

O verde me tonifica e reconcilia, trazendo à tona o lado bom do menino que em mim dormita.

Este apelo para o verde trago-o da infância distante, cortado de luas e pôr-de-sol.

Sempre gostei de brincar na grama. Um gramado de futebol me embevece.

Para mim, moradia sem verde, é tapera, mesmo que seja um palacete forrado de tapetes persas.

Nas paisagens de aquarela, que pintei outrora, o verde explodia sempre, dominando o quadro todo. Até nas paisagens noturnas.

Até hoje releio, de vez em quando, o gostoso "Dom Casmurro", de Machado de Assis. Para sentir e requentar o brilho contagiante dos mágicos "olhos verdes de ressaca" da pequena Capitu. Olhos verdes, sedutores, que enfeitiçavam o Bentinho das mil promessas feitas e nunca cumpridas.

Encontrei-me, de corpo inteiro, na voz daquele outro garoto, cismando com a professora:

- Menino, tu pintas as nuvens de verde, em vez de azul e branco.

- Ficam mais lindas, professora.

- Um tanto irreais.

- Professora, eu vejo as nuvens assim. Verdes, muito verdes.

Gosto de verde. Não sei viver sem ele. Verde, em minha agenda, é questão de sobrevivência.

O pulmão dos grandes centros urbanos reclama verde para respirar. Nas ruas, no asfalto, na ponta dos arranha céus, nos cartazes luminosos, há um grito maciço, de mãos suplicantes:

- Precisamos de um banho. De um banho verde. Mais parques, mais jardins, mais avenidas arborizadas. Sem verde, a gente agoniza. Sem verde, nossos olhos choram. Sem verde já nem alma mais temos.

Mesmo sem casa própria ou sem conta bancária. Mesmo sem tevê colorida ou carro particular, o homem consegue viver. Mas quando faltam árvores e flores e grama... a gente morre, de coração ressequido.

Há remédios, que só o contato com a natureza fornece.

Universos existem que só o verde engloba e libera.

Ser ou não ser verde, cantando esperança, faz um homem sadio ou doente. Ter ou não ter verde enfeitando o cotidiano faz a grande diferença de uma civilização neurótica ou equilibrada.

Menino do Dedo Verde,
Quisera te plagiar,
Dando um banho verde verde
No céu, na terra, no mar.


Pe. Roque Schneider In Pausa para meditação

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