quarta-feira, 20 de junho de 2012

Falso avivamento (o chamado “movimento”): sou contra



Avivamento. Como se tem falado disso nos últimos anos no Brasil. Uma bela palavra, mas que com o uso banalizado tem corrido o risco de se perder o seu sentido original. É interessante que no EUA antigamente era comum se usar este termo para referir-se a uma espécie de cruzada evangelística, que em alguns contextos eclesiásticos era chamado de avivamento (Revival).

Este costume gerou algumas situações pitorescas, como estas citadas por Stott, quando um pastor disse a um colega: “Na semana passada tivemos um avivamento aqui na igreja, mas ninguém foi avivado”. Ou como a daquela igreja que colocou uma placa na porta da frente dizendo: “Todas as quartas avivamento aqui”.

Será que esta experiência não tem se repetido também aqui entre nós? Por isso, afirmo que sou contra o “avivamento”, mas não o avivamento que desce do céu, que se manifesta pela vontade soberana de Deus e impacta integralmente as vidas por ele tocadas. Listo abaixo algumas características do tipo de “avivamento’ diante do qual sou radicalmente contra.

Sou contra um “avivamento” sem conversão genuína

Avivamento de verdade produz conversões, e, geralmente, estas ocorrem em massa, mas são conversões reais, reveladas em vidas radicalmente transformadas pelo poder de Deus. Ateus, blasfemadores, religiosos formais e inconversos, enfim, em toda classe de pecadores, almas são colhidas e o reino de Deus é ampliado de verdade.

Não ocorre apenas uma mudança de pasto ou redil, onde ovelhas de uma comunidade migram para outras e apenas isso. Avivamento não e apenas arrumação de gente, mas acréscimo verdadeiro ao reino através de novas almas convertidas. Avivamento sem mudança de vida não é avivamento, é só agitação humana ou engano demoníaco.

Sou contra um “avivamento” sem angústia pessoal pelo próprio pecado e o da sociedade

Avivamento genuíno produz angústia, uma santa angústia em relação ao seu próprio pecado e ao da sociedade em que estamos inseridos. Não há como se falar em um real avivamento se isso não acontece. Se este pretenso avivamento produz apenas cristãos ávidos (ou avivados) por consumir, adquirir e sentir, pode ocorrer tudo aí, menos um avivamento bíblico. Sem arrependimento e quebrantamento por pecados pessoais e coletivos, não se pode falar em um verdadeiro avivamento.

Sou contra um “avivamento” sem o florescimento da misericórdia e do amor

Um avivamento genuíno é uma obra de Deus, e onde Deus age, há amor e misericórdia envolvidos de alguma forma. Como falar que vidas estão sendo renovadas em seu relacionamento com Deus e em sua jornada com Cristo pelo poder do Espírito se não há nessas vidas e comunidades uma expressão visível do manifestar do amor, da graça e da misericórdia do Deus que estamos declarando estar mais perto de nós neste tempo de avivamento? É uma pecaminosa contradição. Por isso, reafirmo: não acredito em avivamento sem amor e misericórdia manifestos.

Sou contra um “avivamento” sem um renovado interesse pelas Escrituras

Avivamento sem Bíblia é tudo menos avivamento espiritual, pois a Bíblia é o norteador, o referencial que nos aponta a direção divina que permeia toda a sua ação entre nós. Sem este referencial, ficamos ao sabor de nossas próprias experiências, sentimentos e perspectivas, o que, se tratando de algo tão fundamental, torna-se bastante perigoso. Um verdadeiro avivamento aproxima mais o povo à Bíblia, leva o povo de volta as Escrituras. Por isso, reitero: um avivamento sem Bíblia é espúrio, irreal e perigoso.

Sou contra um “avivamento” sem um impacto verdadeiro na sociedade

Um avivamento que não transcenda para a sociedade extramuros da igreja não pode ter o selo de um avivamento genuíno. Quando Deus opera na vida do seu povo, isso chega à sociedade de forma viva, intensa e relevante. Por isso, falar de um avivamento que ocorre em um gueto e ali permanece não é o que Deus nos mostra nas Escrituras e na história da igreja. Nações já foram impactadas pelo mover de Deus no meio do seu povo, e isso sim precisa ocorrer novamente, pois um avivamento que não influencie de verdade a sociedade em que estamos inseridos não é avivamento bíblico.

Sou contra um “avivamento” sem busca de santidade ética, pessoal e coletiva

Avivamento verdadeiro gera santidade verdadeira. É triste constatar que em muitos meios onde se propaga o tema do avivamento, vemos muitos atos antiéticos sendo corriqueiros, e o que é ainda pior: não sendo reconhecidos como tal. Sem a manifestação de uma santidade ética, tanto pessoal como coletiva, não se pode falar na manifestação de um avivamento verdadeiro. Sempre que Deus opera com profundidade na vida do seu povo, este se volta em santidade à presença do Senhor, e isso se torna um marco pessoal e coletivo. Um avivamento que não demonstre este tipo de santidade integral não pode ser chamado de avivamento.

Sou contra um “avivamento” que não conduz ninguém a maturidade

Avivamento que não conduz a maturidade é algo estranho, pois se pensarmos no avivamento como um agir do Senhor, este naturalmente deverá nos conduzir a um processo de aprofundamento de nosso entendimento da vida a partir da perspectiva de Deus. Se isso não ocorre, não há avivamento, pois Deus não vai trabalhar para nos tornar infantilizados e superficiais.

Avivamento que só produz criancices e esquisitice vazia é incongruente com o caráter e o agir do Senhor, ainda que o agir do Senhor muitas vezes fuja do lugar comum e do convencional. Torna-se mais maduro, envolve conhecer melhor a Deus, e se um pretenso avivamento não produz isso, não pode ser conhecido como tal.

Sou contra um “avivamento” sem vida

Este é o contrassenso dos contrassensos, pois como falar de um avivamento ou reavivamento, que é exatamente o infundir de uma nova vida no coração e na alma do povo do Senhor, se essa nova vida não é demonstrada de forma alguma, ou se apenas o emocionalismo e as palavras de ordens superficiais, mas de grande impacto emocional regem este chamado avivamento?

Concluindo, temos de desejar, clamar e até esperar, se aprouver a Deus, que ele derrame sobre nós uma verdadeira “chuva” que regue os campos secos dos corações frios e insensíveis de cristãos e não cristãos, que traga o mover soberano de Deus na forma de um avivamento genuíno com todos os verdadeiros frutos a ele relacionados.

Mas temos de ser sóbrios, temos de resistir e rejeitar os avivamentos banalizados, os avivamentos distorcidos, os avivamentos de mentira, os avivamentos que não alcançam a família, o trabalho, a sociedade em todas as suas dimensões e as relações intra e inter pessoais. Sou contra o avivamento que não aviva ninguém. Sou contra o avivamento se este tipo de engano for assim denominado.

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