sexta-feira, 9 de março de 2012

Inesperadamente - Cecília Meireles

Inesperadamente - Cecília Meireles:
Inesperadamente

a noite se ilumina:
que há uma outra claridade
para o que se imagina.

Que sobre-humana face

vem dos caules da ausência
abrir na noite o sonho
de sua própria essência?

Que saudade se lembra

e, sem querer, murmura
seus vestígios antigos
de secreta ventura?

Que lábio se descerra

e – a tão terna distância! –
conversa amor e morte
com palavras da infância?

O tempo se dissolve:

nada mais é preciso,
desde que te aproximas,
porta do Paraíso!

Há noite? Há vida? Há vozes?

Que espanto nos consome,
de repente, mirando-nos?
(Alma, como é teu nome?)


Cecília Meireles
in Canções, 1956



Nenhum comentário: