segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O esquema de “caixa dois” nas Igrejas Evangélicas


O esquema de “caixa dois” nas Igrejas Evangélicas

Por Gutierres Fernandes Siqueira

O caixa dois é um dinheiro não contabilizado, não oficializado. As empresas e os políticos usam para sonegar impostos e para alimentar redes de relações. É interessante observar que o caixa dois é uma prática em diversas igrejas evangélicas. O problema acontece principalmente em denominações como as Assembleias de Deus, onde as congregações normalmente “sustentam” as respectivas sedes. O objetivo é evitar que todo o dinheiro que entra na congregação seja dirigido para uma sede distante.

Não quero comentar o valor moral do caixa dois em igrejas evangélicas. Sendo certo ou errado é uma questão menor neste texto. Fiquei escandalizado ao saber dessa realidade, mas existe a causa. A questão principal é: por que congregações fazem caixa dois para não mandar todo o dinheiro para uma sede? Por que alguns dirigentes tomam essa medida tão extrema? Qual a questão de fundo?

Algumas questões 


1. O esquema “congregação sustentando sede” é irracional 

As congregações mais pobres mandam dinheiro para sedes ricas. Isso soa irracional e o é. Na maioria das Assembleias de Deus e seus ministérios o esquema é parte essencial das igrejas pequenas com suas centrais. É comum ver templos maravilhosos em sedes pomposas e congregações em salões alugados sem nenhuma estrutura.

2. As congregações não possuem autonomia sobre o dinheiro que arrecada 

Na teoria a Assembleia de Deus é congregacional. Mas isso é só teoria, infelizmente. As congregações não possuem autonomia administrativa e financeira. As escolhas de investimento e aplicação dos dízimos e ofertas são feitas pelas respectivas sedes. Nada menos congregacional.

3. O dinheiro que vai para a sede não volta em resultados práticos 

Durante anos e anos a congregação direciona dinheiro para uma sede, mas não recebe nada de volta. O dinheiro sempre vai, mas nunca volta em forma de investimento. É um dinheiro que fica invisível para quem contribui na base, pois o mesmo continua congregando em um salão alugado sem nenhuma estrutura. Não se vê investimento em missões transculturais, estrutura física da Escola Bíblica Dominical e assistência social.

4. A falta de transparência 

O que é feito com o dinheiro? Onde é investido? Quais os planos futuros que envolvem contribuição financeira? Quando é direcionado para assistência social? Difícil responder qualquer uma dessas perguntas, pois nenhum relatório é disponibilizado. O único relatório disponível nas igrejas é aquele onde marca os “contribuintes do mês”.

É interessante ver como o apóstolo Paulo era preocupado em prestar contas às igrejas, mas hoje parece que isso não é necessário. Paulo, inclusive, não queria que o tema fosse empecilho para a proclamação do Evangelho. A sociedade contemporânea cobra coerência e transparência dos governantes, mas a igreja, como instituição, parece que não se deu conta disso. Lamentável.
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Portanto, falar em dízimos e ofertas em um ambiente onde as pessoas veem o dinheiro que contribuem simplesmente “sumindo”, pois o resultado é invisível, logo fica difícil de ver um aumento da contribuição voluntária.

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