quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Onde foi que eu errei? O que está acontecendo com os filhos de pastores?

Onde foi que eu errei? O que está acontecendo com os filhos de pastores?


Por Hermes C. Fernandes
 A tragédia ocorrida com o Bispo Robinson Cavalcanti, assassinado pelo próprio filho, gerou uma consternação sem precedentes na igreja brasileira. Como poderíamos esperar que algo assim pudesse acontecer numa família pastoral? Seria isso sintomático? Diante destas questões, achei por bem republicar um texto de minha autoria onde abordo o conflito entre pais e filhos nos lares de líderes cristãos.

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“Onde foi que eu errei?” Este era o bordão de um personagem protagonizado por Jorge Dória em um programa humorístico da TV brasileira e expressava a desilusão de um pai que havia criado o filho na expectativa de que fosse um garanhão, ao se dar conta de que seu filho era gay. Talvez por não ser considerado politicamente correto, o quadro acabou extinto.

Recentemente o filho adotivo do bispo Edir Macedo protagonizou um episódio escandaloso em que aparece em vídeos postados no Youtube, fazendo gestos obscenos e indicando simpatia com o satanismo. Moysés foi adotado quando sua mãe o deixou recém-nascido na porta da Igreja Universal na Abolição, RJ. Como não tinha filho varão, Macedo resolveu adotá-lo. Ao chegar à adolescência, demonstrou ter talento musical, e foi lançado pela gravadora Line-Record, primeiro como cantor gospel, e depois, como cantor pop. Uma de suas músicas entrou na trilha sonora de uma novela da emissora do pai. Apesar da criação cristã que recebera ( sem levar em conta as doutrinas da igreja de seu pai… ), rebelou-se, tornando um motivo de constrangimento para sua família e toda a direção da igreja. Infelizmente, este não é um caso isolado. 
 Como Moyses, muitos outros filhos de pastores têm se rebelado contra tudo o que aprenderam. Um exemplo é o filho de Billy Graham, o maior evangelista do século XX. Franklyn Graham envolveu-se com drogas, abandonando os princípios nos quais seus pais o educaram. Somente aos 22 anos teve um encontro real com Cristo, e hoje é o herdeiro do ministério de seu pai. Outro caso que tem repercutido na mídia é o de Katy Perry, filha de pastores pentecostais, que recebeu uma criação rigída, chegando a cantar no coral da igreja, e hoje está entre as principais estrelas da música pop mundial. Canções que fazem apologia ao homossexualismo feminino estão em seu repertório, para vergonha de seus pais. Numa recente entrevista à revista Rolling Stone, Perry declarou que apesar de sua contuda mundana, ainda cultiva o hábito de falar em línguas.

Fica a pergunta: o que estaria acontecendo com os filhos dos pastores?

Seria tudo isso sintomático? Tenho conversado com vários pastores, tanto americanos, quanto brasileiros, que têm atravessado momentos dificultosos em seu relacionamento com os filhos. Drogas, rebeldia, promiscuidade são alguns dos sintomas de algo que está acontecendo em muitas famílias pastorais e que precisa ser tratado. De fato, não é fácil ser filho de pastor. Eu que o diga! Sou filho e neto de pastores. Sei da pressão a que são submetidos… Da cobrança… Do dever de serem exemplo para os demais jovens da igreja. Alguns acabam herdando o púlpito de seus pais. Outros preferem traçar seus próprios caminhos, negando-se a viver à sombra do pai.

Não acho que todo filho de pastor “pastorzinho é”. Nenhum pastor recebeu de Deus a ordem de estabelecer uma espécie de dinastia ministerial. Não sou pastor porque meu pai e meu avô foram pastores. Jamais fui forçado a abraçar o ministério. Tornei-me pastor porque me senti chamado para isso. Não vou negar que se meu filho tiver esta mesma vocação ficarei muito alegre. Mas não o obrigarei a seguir minhas pegadas. Só espero que, seja qual for sua vocação, seja direcionada para o bem da humanidade e para a glória do nosso Deus. Se assumirmos como sintomático o que tem acontecido a muitos filhos de pastores, teremos que examinar o que estaria por trás deste fenômeno, para que, então, buscássemos o remédio. Sugiro aqui algumas respostas:

1- Ausência da figura paterna – Um pastor que se dedique ao ministério em tempo integral dificilmente encontrará vaga em sua agenda para dedicar à família. Imagine a ironia de um filho ter que consultar a secretária de seu pai pra saber se há espaço em sua agenda para recebê-lo! Filhos emocionalmente sadios custam tempo de qualidade na companhia dos pais. Como já foi dito, nenhum sucesso compensa o fracasso no lar. De que adianta ter uma igreja superlotada, desfrutar de popularidade na mídia, e ser um estranho dentro de casa? Pais e filhos precisam caminhar juntos, construir uma rotina em conjunto. Pai não é quem aponta o caminho, mas quem caminha junto. A instrução bíblica é clara: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele” (Pv.22:6). Não se trata de ensinar O caminho, e sim, NO caminho.

2 – Ausência de discipulado – Não basta caminhar juntos. Pastores precisam adotar seus filhos como discípulos. O caminho é apenas o cenário onde o ensino deverá ser ministrado. E esta tarefa não pode ser terceirizada. Não delegue a outro o que você deve fazer. Discipule seus filhos! Veja a recomendação divina: "Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te" (Dt 6.6-7). Aproveite cada momento gasto ao lado dos filhos para transmitir-lhes os valores e princípios do Reino de Deus. Este será seu maior legado.

3 – Ausência de autoridade – Amizade não é coleguismo. A figura paterna será a primeira referência de autoridade que o filho terá em sua caminhada existencial. Se isso não for bem elaborado, o filho terá problemas no futuro por não saber submeter-se à autoridade. Um dos requisitos que deveriam ser preenchidos por quem almejasse o ministério pastoral é "que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)"(1 Tm 3.5). Quem não sabe exercer autoridade dentro de seu lar não tem condição moral de exercê-la na igreja. Infelizmente, alguns pastores se tornaram figuras públicas tão notórias que acham desgastante ter que preocupar-se com questões domésticas. Será que estes pregadores “estrelas” teriam maior notoriedade do que Abraão? Pois veja a tarefa que o próprio Deus atribui ao patriarca: "Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito" (Gn 18.19). Lembre-se que a criação que houvermos dado aos nossos filhos será reproduzida em nossos netos e bisnetos.

4 – Ausência de disciplina - “A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe" (Pv 29.15). O filho errou, não ponha pano quente. Discipline! A justiça começa em casa. Lembre-se que o próprio Deus, “corrige a quem ama, e açoita a todo o que recebe por filho” (Hb.12:6). Corrigir é uma demonstração de amor. Quem não disciplina seu filho revela não se importar com o que ele faz, seja certo ou seja errado. Se ele errar, corrija-o. Se acertar, recompense-o, elogie-o, deixo-o saber o quanto você se orgulha dele. Disciplina não é só punição, mas também estímulo.

5 – Ausência de privacidade – A família pastoral necessita de um tempo de privacidade. Como se não bastasse a exposição na igreja, o lar de muitos pastores é completamente aberto, possibilitando que os membros transitem livremente. Lembre-se do episódio em que os credores queriam levar os filhos de um profeta que havia morrido como pagamento de suas dívidas. A viúva desesperada procurou por Eliseu. Todos conhecemos o desfecho da história, e sabemos como Deus agiu poderosamente, multiplicando seu azeite e impedindo que seus filhos fossem levados. Mas poucos percebem que uma das orientações dadas pelo profeta foi que ela devia fechar a porta de sua casa (2 Reis 4:4). Não leve problemas da igreja pra dentro do seu lar, tampouco leve problemas familiares para a igreja. Não exponha publicamente seu descontentamento com a esposa ou com os filhos. Procure manter a privacidade de sua família.

6 – Ausência de demonstração de amor – Quem ama, cuida. Quando Jesus perguntou a Pedro se este O amava, pediu que seu amor fosse demonstrado no cuidado por seus pequeninos. Nossos filhos são nossas principais ovelhas. Cuidar deles com amor é declarar o quanto amamos a Jesus. “Mas, se alguém não cuida dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior que o incrédulo” (1 Tm.5:8). Ser negligente nisso é equivalente a negar a Cristo, como Pedro fez por três vezes, e por isso, teve que responder à mesma pergunta feita três vezes por Jesus: Tu me amas? (Jo.21:15-17). A repentina rebeldia de um filho pode ser a maneira usada por Deus para despertar nossa consciência, tal qual fez com Pedro através do canto do galo.

Não desista de seus filhos. Ame-os. Traga-os para mais perto. Curta-os, enquanto é tempo. Discipline-os na medida certa. Oriente-os. Faça deles o seu presente particular por um mundo mais justo. Eles jamais te esquecerão.

P.S.: Não se pode generalizar. Há casos em que o pastor preenche todas essas lacunas, e mesmo assim, o filho acaba se rebelando. Se este for o seu caso, resta orar, perseverar em amá-lo, e esperar que um dia o Bom Pastor o traga de volta ao aprisco.

Popout  

 OBS: Vale muito a pena ver esse outro video - AQUI.

Juliano Fabricio via 

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