quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Efésios 1.1a, b, c - Exposição em Efésios -


Efésios 1.1a, b, c - 
Exposição em Efésios - 
Sermão pregado dia 29.01.2012

"Paulo, apóstolo de Jesus Cristo, pela vontade de Deus" (Ef 1:1a, b, c).

A Escritura como testemunha e fiel transmissora da Palavra de Deus. A Escritura é eterna, isto é, ainda que tenha sido endereçada aos Efésios, também comunica graça aos nossos corações do século XXI. Temos de sempre ter isso em mente, pois conforme Paulo diz em outro lugar (2Tm 3.16,17), "Toda a Escritura é inspirada por Deus", quer dizer, tudo o que Deus escreveu foi feito conforme o bom conselho de Sua vontade. E mais: sendo Deus soberano sobre tudo o que ocorre nesta vida, devemos compreender que em Sua maravilha graça, sustentabilidade e provisão espiritual, aprouve a Ele nos legar os mesmos escritos que abençoaram centenas e milhares de gerações até hoje, ou seja, o mesmo Deus que se comunicou com o povo do Antigo Testamento e que agora - em nossa presente carta - fala mediante o santo apóstolo, também escreve a nós, como que para filhos por adoção (conforme nos dizem as Escrituras), pois não estávamos em Israel ou Éfeso ou ainda em outro lugar para recebermos das mãos do Senhor seus ensinos, contudo, Ele nos tem agraciado com a perpetuidade de Sua palavra, conforme prometido por ele mesmo: "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar" (Mt 24.35; Mc 13.31; Lc 21.33).

Paulo, homem pecador, mas que achou graça diante de Deus. A palavra de Deus nos informa que Paulo escreveu a presente carta enquanto estava preso em Roma (At 28), após ter sido apanhado pelos judeus (At 21.27) e depois preso pelos romanos que subjugavam a Israel (At 22.24-29) como uma espécie de colônia. Embora Paulo fosse cidadão romano (At 22.26, 27), havia crescido aos pés do melhor dos judeus da linha farisaica - Gamaliel (At 22.3) -, se tornando "fariseu de fariseus" e grandioso mestre e conhecedor da Lei; vindo posteriormente a perseguir os adeptos de Jesus Cristo. 

A Bíblia também nos informa que Paulo esteve em Éfeso durante três anos (At 20.31) depois de sua segunda viagem missionária (isto é, na sua terceira), após ter visitado a cidade de Corinto (At 18). Em Éfeso, Paulo discursou durante três meses na sinagoga (At 19.8) e subsequente a isso, durante todos os dias, pelo período de dois anos, ensinou na escola de um certo Tirano (At 19.9). Pela graça de Deus, Paulo também fez muitos milagres enquanto ali permaneceu (At. 19.11), de forma que os habitantes muito se maravilhavam e o Evangelho de Cristo se expandia.

Embora Paulo fosse grande conhecer da Lei, vemos que seu zelo pela palavra de Deus não fora de acordo com o que o a própria Escritura prescrevera acerca de um homem que amava de fato a Lei do Senhor. Quer dizer, Paulo perseguia incansavelmente os cristãos, mas não por amor a Cristo, e sim pela letra da lei (não vivificada pelo Espírito Santo), pelo seu farisaísmo, por um desejo incessante de querer que os intentos humanos fossem mais elevados do que Sua palavra.

Paulo cresceu e dedicou todos os seus esforços a fim de que pudesse ser um exímio cumpridor da Lei, mas mas se apercebeu de que sua busca era inútil, pois no buscava o Senhor, mas o farisaísmo e sua vontade de cumprir o intento de homens. Quantos de nossos homens e mulheres literalmente gastam suas economias e seus tempos preciosos em busca de coisas frívolas e sem sentido, assim como Paulo fez? Quantos jovens tem dedicado suas vidas, dinheiro, tem negado tempo com a família, não investido dedicação na leitura de bons livros que gerem piedade, mas creem firmemente que estão vivendo para a glória de Deus? O apóstolo Paulo foi alguém miserável até ter conhecido Cristo Jesus verdadeiramente. Digo verdadeiramente pois na verdade o conhecia, afinal ele o lia nas páginas do Antigo Testamento, porém não conseguia vê-lo já andando sobre a terra e fazendo a obra do Pai que lhe havia enviado.

Penso que muitos leitores e ouvintes dessa noite possam estar na mesma ignorância em que anteriormente vivia Paulo: um desejo ardente de fazer a vontade do Senhor, mas uma prática totalmente divorciada da Verdade.
Paulo, homem capaz, dotado de grande talento, mas que foi transformado por nosso Senhor. É justamente isso que nos faz ficar abismados quanto à sentença inicial desse homem que passou a ser grande servo de Deus - "Paulo, apóstolo de Jesus Cristo" (v.1a,b). Esse homem que era tido por inimigo da cruz e que perseguia com violência os adeptos do Cristianismo, agora repete aos irmãos de Éfeso aquilo que era comum em todas as suas cartas, isto é, que não era mais um perseguidor do Evangelho, mas um apóstolo de Jesus Cristo.

"E Saulo, respirando ainda ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote. E pediu-lhe cartas para Damasco, para as sinagogas, a fim de que, se encontrasse alguns daquela seita, quer homens quer mulheres, os conduzisse presos a Jerusalém" (At 9:1-2). O intento de Paulo era claro: perseguir e prender cristãos, maltratar os seguidores do Caminho, extirpar todo aquele que se dizia seguidor de algo que Paulo não conseguia conceber e que nem enxergava no Antigo Testamento. Nada mais ardia em seu coração do que o zelo pela Lei e pelas orientações recebidas dos mestres com que havia convivido. A lei dos fariseus - e o que havia aprendido da Lei do Senhor com eles -, tão profundamente cravada em sua mente, o levava a fazer loucuras, como se estivesse fazendo para o Senhor e O glorificando com tais atitudes. Foi desse modo que Paulo pôs-se a requisitar autorização do sumo sacerdote, a fim de que fosse a Damasco e pudesse cumprir sua missão de "fiel fariseu". Contudo, bem sabemos que esse não era o intento do Senhor, pois tal mudança em Paulo não se deu mediante à sua vontade, mas à plena e majestosa soberania de Deus.

"E, indo no caminho, aconteceu que, chegando perto de Damasco, subitamente o cercou um resplendor de luz do céu. E, caindo em terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues?" (At 9:3-4). Esse homem que havia conseguido autorização para efetuar seu grande feito diante dos homens e perante àquilo que chamava de zelo pela Lei do Senhor, agora se vê prostrado em terra diante daquele que perseguia. Oh! Agraciado Paulo! De perseguidor do Senhor dos Exércitos, a embaixador da graça recebida por Jesus Cristo.

A conversão de Paulo foi algo fascinante: de guerreiro imponente e com cartas nas mãos autorizando o massacre, a homem cego e prostrado ao chão. "Paulo, apóstolo de Jesus Cristo" (v.1a,b) - isso nos deveria causar alegria extrema! Dever-nos-ia espantar a introdução de Paulo em suas cartas, pois quantas são as vezes que lemos sobre um homem, mestre da Lei, exemplo de zelo pelo que perseguia e que buscava aterrorizar um povo, mas que posteriormente passa a defender aquilo que combatia? Penso que não nos espantemos e não nos maravilhemos com o dom gracioso de Deus porque muitas vezes não estamos cônscios de nossa malignidade e do quão necessário é que essa luz divina brilhe como resplendor nos céus, nos leve ao chão e nos deixe cegos devida à nossa malignidade diante do Altíssimo.

A história de Paulo nos ensina que ainda que a Lei de Deus seja completamente sabida por nós ou que a tenhamos firmemente à memória - tal qual os Escribas -, se Cristo não vivificar nossos corações e entendimentos, continuamente fugiremos do Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo e para sempre nos afastaremos das graças do Pai, pois já disse acertadamente o próprio apóstolo do Senhor: "Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)" (Ef 2.5). 

"Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus" (Rm 5:1-2). Se antigamente Paulo andava como que inimigo de Deus e servo de Satanás, agora ele mesmo reconhece que por meio da fé em Cristo Jesus (dada gratuitamente por Ele mesmo - Ef 2.8) pôde ser considerado digno de participar da gloriosa obra de Cristo Jesus, e ainda mais, se gloriar e se alegrar na n'Aquele que o havia salvo do império das trevas. Paulo fora testemunha ocular da presença e manifestação de Cristo diante de si, tendo autoridade para escrever às igrejas e lhes instruir na doutrina e na piedade cristã, não por seu zelo anterior por contendas e genealogias (conforme entendemos de seus escritos em 1Tm 1.4 e Tt 3.9) - que era típico dos mestres da lei -, mas porque foi amado por Cristo e sabia o quão necessitado é todo homem que ainda não foi regenerado e não viu grande luz.

Também como já vimos em outras ocasiões, a Lei para Paulo não era má, mas boa e útil. Essa foi a distinção que gerou pontos mais profundos entre a doutrina luterana e a calvinista. Enquanto para Lutero a Lei era má e representava o pecado, para Calvino a Lei era boa e representava o caminho a ser seguido; não que por ela alguém seja salvo, mas faz justamente o contrário, isto é, que embora a lei nos sirva (e serviu) de aio a Cristo - pois é útil para denunciar o pecado (Rm 7.7) -, ao mesmo tempo nos leva constantemente a apelar para o amor gracioso de Deus, pois por nós mesmos nada podemos fazer - "porque sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5).

Paulo também apela para o seu apostolado, ou seja, afirma que foi feito representante de Cristo e autorizado por Ele para pregar e implantar o reino de Deus em meio ao mundo vil e corrompido. Essa é uma característica importante, pois todos os apóstolos descritos no Novo Testamento viram ao Senhor Jesus - esse foi o requisito imposto pelos 11 ao deliberarem sobre quem substituiria Judas: "É necessário, pois, que, dos homens que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, Começando desde o batismo de João até ao dia em que de entre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da sua ressurreição" (At 1:21-22 - grifo meu). Então, em outro lugar também vemos Paulo testemunhando de que o Senhor havia aparecido a ele também: "E por derradeiro de todos me apareceu também a mim, como a um abortivo" (1 Co 15:8).

A função do apóstolo era transmitir aquilo que havia recebido do Senhor. Assim como o profeta veterotestamentário era o porta voz autorizado do Senhor para ensinar e proclamar a Santa Verdade, do mesmo modo se deu com os apóstolos de nosso Senhor Jesus, os quais foram os únicos autorizados a ensinar a igreja primitiva sobre o caminho que deveriam, agora que Cristo havia sido revelado.

Vejamos também que o propósito dos apóstolos era justamente "desvendar" a lei para o povo judeu (e posteriormente para os gentios) e para isso mesmo Paulo foi chamado! Aquele homem que fora profundamente conhecedor da Lei, mas caído em sua ignorância quanto à fé, agora passa a se humilhar diante daqueles que perseguia e prega sobre aquilo que outrora não entendia plenamente! A maravilhosa bênção de Deus é evidenciada nesse ponto, pois Cristo desejou mostrar a Paulo que seu mero intelectualismo não era capaz de O agradar. Por maior que fosse seu zelo pelos escritos da Lei, sem o Espírito Santo ela está morta - e isso Paulo compreendeu muito bem: "O qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica" (2Co 3.6).

Em nenhum momento Paulo argumentou dizendo que basear-se na Lei era algo contrário a vontade do Senhor. Infelizmente, muitos desavisados em nossos dias utilizam-se do palavreado de Paulo para tentarem comprovar que a Lei de Deus é má e que pertence ao "retrógrado" e "ultrapassado" Antigo Testamento. Porém, de longe podemos afirmar que não foi esse o intento de Paulo - pois quem entendia melhor da Lei do que esse santo? O eleito de Deus, Paulo de Tarso, nos diz que a Lei é boa e útil (Rm 7.7), contudo não afirma que ela é o fim ou o caminho em si mesmo, e sim que sem o Espírito Santo ela está morta e gera a morte - tipificando que sem a graça interior do Senhor, toda pompa e zelo exterior em buscar-se cumprir os preceitos divinos é pura blasfêmia diante do Artífice da criação.

O apóstolo Paulo também adiciona "pela vontade de Deus" (v.1c), como que querendo mostrar que não bastasse toda sua mudança de comportamento testemunhar por si mesma, toda honra devia ser dada ao Senhor, pois assim como "a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo" (2Pe 1.21), de igual forma ele havia sido transformado pela vontade de Deus e não pela mente de homens corruptos e que constantemente maquinam o mal contra o Senhor.

É necessário que todo crente entenda que que a salvação acontece pela livre e graça de nosso Senhor, isto é, a salvação nunca é sinergista (não depende da aliança de dois lados), mas sempre monergista (apenas um lado toma a iniciativa - Deus). Certamente que isso não nos deve servir de desculpa para o evangelismo, e provo ser justamente a intenção contrária que a Escritura nos dá, ou seja, de que a soberania de Deus não invalida o evangelismo, antes, o confirma, pois se dependêssemos de forças próprias para chegarmos à persuasão plena das faculdades humanas quanto ao pecado, jamais teríamos êxito nos afazeres, pois somos vis e corruptos, contudo, tendo em vista que em Sua multiforme graça aprouve a Deus escolher os seus desde a fundação do mundo, tal excelência divina dever-nos-ia impulsionar ao ide e pregai o evangelho, pois toda força e persuasão vem do alto, toda iluminação e capacitação para quebrar a barreira do pecado é advinda dos poderes celestiais, não podendo homem algum desejar gloriar-se em sua missão, pois toda honra deve ser dada ao Altíssimo, "o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós" (Ef 4.6).

Amém.

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