Ao ouvir frequentes comentários de que o filme “Amizade Colorida” traz um fidedigno retrato da realidade nos relacionamentos casuais, me apressei em assistir a pífia obra do cinema americano onde pude ratificar a percepção de que o sexo sem compromisso tem se tornado uma “necessidade” comum e “normal’ na juventude do século XXI. Se atualmente vivemos numa sociedade hedonista onde os sujeitos buscam de forma incansável fartar seus desejos materiais e de corpo, não é de se estranhar que a geração de hoje goste de “dar uma fugidinha” pra satisfazer seu requinte de prazer.
É incrível como o cinema tem a capacidade de redefinir valores e normalizar o que a Bíblia chama taxativamente de pecado.
Em Amizade Colorida, a personagem Jamie (interpretada por Mila Kunis), após se cansar de relacionamentos sérios, depois do fim de uma decepção romântica, decide não se envolver sentimentalmente com mais ninguém. Logo no início do filme, ela se depara com Dylan (interpretado por Justin Timberlake), cliente de sua empresa, e que troca Los Angeles por Nova Iorque, ao aceitar um emprego na Big Apple. Ele também vem de um término de relacionamento no qual é rejeitado pela antiga namorada, e assim como Jamie, decide não mais se apaixonar.
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O que mais me chamou a atenção foi notar que após firmarem uma amizade prematura, em um dos primeiros encontros passaram a conversar sobre a necessidade do sexo no dia-dia de ambos, uma vez que nos relacionamentos anteriores, por terem tido um namoro aberto e sexualmente ativo, careciam de esporádicos encontros casuais. Para a solução ante as decepções amorosas vividas por eles, chegaram a um pacto de amizade onde, como uma válvula de escape, estes fariam sexo sem compromisso sempre que desejassem, porém sem envolvimento afetivo. Em uma das cenas Jamie argumenta que o sexo é complicado porque “envolve complicações e emoções”, mas Dylan diz: “(...) sexo é uma ato físico. Como jogar tênis” - esta falsa justificativa dá início aos constantes encontros de cama entre eles.
O filme passa por longe de ser uma obra-prima, mas no seu aspecto realista funciona como observatório quando nas peculiaridades dos diálogos de quarto, dotes, manhas relacionadas a sexualidade e fetiches. Contudo o que o produtor tenta deixar como conclusão é que o envolvimento físico pode até ocorrer de forma casual, mas as constantes experiências corporais entre eles não foram tão autônomas como eles pensaram, e ambos acabam se apaixonando.
O filme é mais um retrato da banalização de conceitos de amizade, namoro, e sexo. Portanto vejamos algumas observações que separei relacionadas a estes três itens.
Lembremos que amizade é um tema recorrente nas escrituras. Deus ao se dirigir aos seus filhos chamou-os de amigos (Jo 15.12-16), da mesma forma, o sábio Salomão chegou a dizer que há amigo mais chegado que irmãos (Pv 18.24); “amigos são amigos para sempre se o Senhor é o senhor deles”, disse Michael W. Smith em sua linda canção Friends, “(...) é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração...”, dizia também o saudoso Milton Nascimento em Canção da América. Sendo assim amizades entre pessoas do sexo diferente são saudáveis desde que não sejam “coloridas”, mas que tenham como base o respeito, moderação e acima de tudo, glorifiquem a Deus com seus corpos e atitudes. Não consigo conceber como a prática do “ficar” com outra pessoa pode ser concebida dentro de uma amizade verdadeira. O mais preocupante: tem muita gente que tenta manter um relacionamento sincero com Deus, mas vivendo na prática da prostituição com o amigo(a)!
A vulgarização do namoro é uma consequência da noção hedônica de experimentar outros prazeres. No caso de Amizade Colorida, a justificativa de Jamie e Dylan por não optarem por relacionamentos sérios teria sido motivada pelas decepções amorosas de ambos. De fato isso me pareceu algo bem corriqueiro, mas reprovável - quantas pessoas (inclusive cristãs) feridas em relacionamentos, após um longo período de reestabelecimento ante os sentimentos de rejeição, traição, etc., preferem desacreditar no amor fazendo derruídas generalizações? Para esse tipo de pessoa, entre uma noite casual e um passo a mais no “flerte sincero” e verdadeiro, prefere apenas uma aventura momentânea na odisseia do corpo.
O que mais me choca diante de tudo é perceber que este sistema de inversão tenta tornar o namoro outrora saudável, recheado de amizade, respeito, compromisso e pudor, em algo em desuso, careta, ou seja, em puro desperdício. Galera, Deus jamais aprovará uma “ficada” em nome da necessidade! (1Co 6.20)
Quanto ao sexo hoje em dia, tudo me assusta. Não o fato de Amizade Colorida retratar cenas picantes, mas a real sensação de que aquele sexo “preto e branco”, casual, apresentado no filme, são retalhes de uma realidade vivida pelos jovens desta época presente. É como se antes as pessoas se doassem mais e se entregassem menos, enquanto que hoje, elas se entregam facilmente, mas não possuem a capacidade de se doar. Esta inversão de papéis tem arruinado com a ideia do projeto de família entre jovens aspirantes ao casamento. Isso me faz perceber que é raro se encontrar casamentos frutos de uma amizade sincera, namoro, e comprometimento – muitos casam por vexame, gravidez indesejada, etc. O sexo parece sempre vir primeiro, depois, caso role uma química, quem sabe um namoro, e por último, quando a confiança se instalar entre, talvez se construa uma amizade.
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