Wilma Rejane
No Senhor me refugio, como dizes, pois ó minha alma: Foge como um pássaro para o teu monte? Sl 11:1
Em momento de introspecção e reflexão, Davi questiona a si mesmo. Ele perece viver uma contradição, um momento de conflito onde a fé daria lugar a insegurança, um sentimento ameaçador que motivava a fuga . A alma de Davi então, é comparada a um pássaro ansioso por fugir para seu monte como se quisesse experimentar liberdade e solidão. A alma com asas, que foge para o monte, representa a vontade humana em ilusão de liberdade. O monte, não implica, necessariamente um lugar físico, mas espiritual. “Meu monte” indica familiaridade, lugar comum, conhecido, elegido. Fugir está no versículo em oposição a refugiar. Escolher a fuga, é como distanciar-se de Deus , por esse motivo, Davi reluta, repreende essa luta travada em seu interior.
A fuga, é um mecanismo de defesa, presente tanto nos homens como nos animais. Fugimos por motivos tantos que nem caberia enumera -los. É através da fuga que preserva-se a vida ou encontra-se a morte. Hábeis predadores conseguem sobreviver e dar continuidade a espécie pela agilidade e força empreendidos nessa ação que define caça e caçador, perseguido e perseguidor. Fuga, portanto, indica movimento de partida e chegada, percursos de toda sorte. Fugir como pássaro, parece ser bem mais confortável e seguro: A imensidão dos céus diminui as chances de captura, uma vez que a largura, altura e distância do chão, não comportam tanta proximidade entre predador e presa. Quantos de nós nos encontramos como pássaros em fuga? Quantos elegeram “seu monte” como provisão, solução para alma em aflição?
A primeira vez que a Bíblia relata uma fuga, é logo no Gênesis, no inicio da vida humana. Adão, é o primeiro fugitivo. Acuado pelo pecado, pela consciência em culpa, ele foge da presença de Deus: “Adão, onde estás? Ouvi Tua voz no jardim, e porque estava nu, tive medo e me escondi” Gn 3:8,9.Homens fogem de si mesmo e também de Deus. A fuga de Adão é o símbolo do homem pecador que perde a liberdade ao procurar por ela. Adão é esse pássaro que se dirige para o monte e se distancia de Deus. O livre arbítrio são asas que nos conduzirão ao céu ou nos abaterá ao inferno.
“ foge como pássaro para o teu monte...” Qual é o seu monte?
Homens pássaros são fugitivos , com asas, mas aprisionados. Não é uma contradição? Sim, claramente e não apenas contradição, mas condição. Perdemos a identidade quando escolhemos a fuga e não o refúgio, o monte e não o Éden. Pecado é isso : perda de identidade. Adão já não era quem Deus queria que fosse, mas alguém corrompido e escravizado por suas vontades.
O Evangelho de João nos diz : “Todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem reveladas as suas obras. Quem pratica a verdade, aproxima-se da luz, a fim de que suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” Jo 3:20,21. Adão tornara-se era esse fugitivo da luz.
Pergunto: Qual o seu monte, a sua fuga? Meu monte, minha fuga? Necessitamos repetir a reflexão feita por Davi e dizer a nossa alma: “ Deus é o seu Refúgio, ninguém mais, nada mais. Volta ó minha alma, se utiliza das asas para retornar a Deus, encontrar o caminho de vota, tal qual o filho pródigo. Busca a luz minha alma, se achega a ela para viver a verdadeira liberdade”!
O voo da alma
Metanoia é uma palavra grega que convoca os homens a autenticidade, verdade, transparência e o mais interessante, é que na metanoia o homem realiza um voo para além de si mesmo na intenção de encontrar o Divino e ser transformado por Ele. Metanoia é retorno, é saída do monte, das trevas: “ Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus” Mt 3:2. O verso começa com metanoia. Esse é o voo da liberdade, da alma!
Homens pássaros apenas fogem de um lugar para outro sem contudo encontrar felicidade. Os montes, são moradas inseguras onde o desabrigo provoca perdas e perigo de morte. Que essa metanoia, esse voo para Deus, seja a nossa vida, o nosso alvo em toda e qualquer circunstância.
Em Cristo.
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