Paulo nos oferece o modelo
completo de um ministro cristão. Pastor vigilante, ele se preocupava sem cessar
com o rebanho confiado a seus cuidados. Ele não se limitava a pregar o
Evangelho, e não cria ter completado todo o seu dever em anunciar a salvação,
mas seus olhos estavam sempre voltados às Igrejas que havia fundado,
seguindo-as, com um interesse zeloso, no seu progresso ou declínio na fé.
Quando ele tinha que ir proclamar o Evangelho eterno em outras regiões, ele não
cessava de velar pelo bem estar espiritual de suas vibrantes colônias cristãs
da Grécia e da Ásia menor, semeadas por ele em meio às trevas do paganismo; e
enquanto acendia novas lâmpadas na tocha da verdade, ele não negligenciava
aquelas que já flamejavam. É assim que, em nosso texto, ele dá à pequena Igreja
de Filipos uma prova de sua solicitude, lhes dirigindo conselhos e
advertências. E o Apóstolo não era menos fiel que vigilante. Quando via pecado na
Igreja, não hesitava em denunciá-lo. Ele não lembrava a maioria dos pregadores
modernos, que se vangloriam de não ter jamais tido uma relação pessoal com seu
rebanho ou jamais ter incomodado suas consciências, e que põem sua glória
naquilo que é enganoso; porque tivessem eles sido fiéis, tivessem exposto sem
impureza todo o conselho de Deus, teriam infalivelmente, uma vez ou outra,
ferido a consciência de seus ouvintes.
Pois
muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes eu vos dizia e, agora, vos
digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo. O destino deles é a
perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto
que só se preocupam com as coisas terrenas. (Fil. 3:18,19).
Paulo agia totalmente
diferente: ele não temia atacar frontalmente o pecador, e não somente tinha a
coragem de declarar a verdade, mas sabia da necessidade de insistir sobre esta
verdade: "Repetidas vezes eu vos dizia, e eu vos digo ainda, que muitos
entre vós são inimigos da cruz de Cristo”.
Mas se, por uma parte o
apóstolo era fiel, por outra ele era cheio de afeto. Como todo ministro de
Cristo deveria fazer, ele amava verdadeiramente as almas sob seu encargo. Se
ele não podia admitir que algum membro das Igrejas colocadas sob sua direção se
desviasse da verdade, não podia mais ainda lhes repreender sem derramar
lágrimas. Ele não sabia brandir a ira com o olho seco, nem denunciar os juízos
de Deus de maneira fria e indiferente.
As lágrimas brotavam de seus
olhos, enquanto que sua boca pronunciava as mais terríveis ameaças; e quando
censurava, seu coração batia tão forte de compaixão e amor, que aqueles a quem
ele se dirigia não podiam duvidar da afeição com que suas censuras eram
ditadas: “Eu, repetidas vezes vos dizia, e agora vos digo até chorando”.
Meus amados. A advertência
solene que Paulo, outrora, dirigiu aos Filipenses nas palavras de meu texto, eu
as dirijo a vocês hoje, para que entendam.
Temo que esta advertência não
seja menos necessária em nossos dias que nos tempos do Apóstolo, porque em
nossos dias como nos dias do Apóstolo, há vários na Igreja cuja conduta
testemunha fortemente que são inimigos da cruz de Cristo. Que posso dizer? O
mal, longe de diminuir, me parece ganhar terreno a cada dia. Há, em nosso
século, um maior número de pessoas que fazem profissão de fé que no tempo de
Paulo, mas há também mais hipócritas.
Nossas Igrejas, eu lhes digo
para sua vergonha, toleram em seu seio membros que não têm nenhum direito a
este título; membros que estariam bem melhor se postos em uma sala de festim,
ou em qualquer outro lugar de dissolução e loucura, mas que jamais deveriam
molhar os lábios no cálice sacramental ou comer o pão místico, emblemas dos
sofrimentos de nosso Senhor. Sim, em vão procurariam dissimular que há vários
entre nós – (e se tu voltasses à vida, ó Paulo. Quanto não te sentirias
apressado em nos dizer, e quantas lágrimas amargas não derramarias ao nos
dizer!...) – que são inimigos da cruz de Cristo, e isto porque o deus deles é o
ventre, porque eles dirigem suas afeições às coisas da terra, e sua conduta
está em completo desacordo com a santa lei de Deus.
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