domingo, 29 de abril de 2012

Três possíveis explicações da razão pela qual Deus permitiu o pecado


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Por Samuel Falcão
De acordo com tudo quanto foi dito acima, vemos que o mal moral, tanto em sua origem como em seu prosseguimento, foi incluído nos decretos de Deus como permitido, mas permi­tido com algum sábio objetivo.


Que Deus decretou permitir o pecado, desde toda a eterni­dade, vê-se no fato que, também desde toda a eternidade, Ele decretou salvar pessoas mediante a morte de Cristo, como se declara na seguinte passagem das Escrituras: “Não foi medi­ante coisas, corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resga­tados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós” (1Ped.1:18-20; veja-se também o v. 2 e Rom.8:29; 2Tim.1:9; Tito1:2; Apoc.13:8).


Há outra pergunta a fazer em conexão com este magno as­sunto, a saber: Por que permitiu Deus que o mal entrasse no mundo? Se Ele odeia o mal e tem todo o poder, de modo que podia tê-lo impedido, por que o permitiu com suas conseqüên­cias indescritivelmente dolorosas? Esta é a pergunta que mais nos deixa perplexos. Jamais seremos capazes de responder a ela nesta vida.
“A permissão e a presença do pecado no universo, onde Deus infinitamente santo, exerce domínio, oca­sionam um entrechoque de idéias, as quais, por tudo quanto envolvem, nenhum espírito humano pode har­monizar completamente. Tendo-se em vista as duas realidades inconciliáveis, Deus e o pecado, é certo que a solução da dificuldade não será descoberta nem na suposição de que Deus era incapaz de impedir o apa­recimento do pecado no universo, nem de que Ele não pode fazê-lo cessar a qualquer momento. Na pro­cura dessa solução, é certo que o dilema não será ven­cido ou atenuado, supondo-se que o pecado não é excessivamente mau à vista de Deus — pois Ele tem-lhe aversão absoluta. O fato permanece sem modificação, que Deus, ativa e infinitamente santo e absolutamente livre em seus empreendimentos, sendo capaz de criar ou não criar, e de excluir o mal daquilo por Ele criado, permitiu não obstante que o mal aparecesse e ope­rasse na esfera dos anjos e do homem. Esta perplexi­dade sobe de ponto, atingindo um grau imensurável, se considera o fato de que Deus sabia, quando per­mitiu a manifestação do pecado, que este lhe custa­ria o maior sacrifício que lhe seria possível fazer — a morte de seu Filho. As Escrituras atestam, com bas­tante ênfase que (a) Deus é todo-poderoso e, por con­seguinte, não recebe imposição do pecado contra sua vontade permissiva; (b) que Deus é perfeitamente santo e odeia o pecado incondicionalmente; e (c) que o pecado está presente no universo, ocasionando toda sorte de malefícios aos seres criados e que esse dano, em vista da incapacidade de alguns de entrarem na graça da redenção, pesará sobre eles por toda a eternidade”. [1]


Embora as perguntas acerca deste problema sejam de fato desconcertantes, algumas respostas têm sido sugeridas. Vou referir algumas.


1. “Sendo o propósito final de Deus trazer os homens à sua semelhança, estes, para alcançar esse fim, devem chegar a saber em certo grau o que Deus sabe. De­vem reconhecer o caráter maligno do pecado. Este, intuitivamente, Deus conhece; mas tal conhecimento pode ser adquirido, pelas criaturas, apenas por meio de observação e experiência. Obviamente, se o pro­pósito divino tem de ser realizado, ao mal deve-se permitir que se manifeste. O que a demonstração do pecado e sua experiência podem significar para os anjos não está revelado”.[2]


2. Uma segunda explicação é que a existência de agen­tes livres no universo seria uma possibilidade virtual de revolta contra Deus, em qualquer tempo. Noutras palavras, a existên­cia de vontades livres, capazes de se opor à vontade de Deus, seria, por toda a eternidade, um principio potencial de pecado, e tal princípio de pecado tinha de ser trazido “a juízo completo e final”. Deus desejou tornar impossível, no fim, não somente a realidade do pecado, mas até sua possibilidade. Como não é possível condenar uma abstração, Deus permitiu que o pecado ou o mal se concretizasse, de modo a poder ser condenado na cruz, onde seu caráter foi plenamente revelado nos sofrimentos do Filho de Deus. Por essa forma todas as criaturas de Deus aprenderiam que coisa insana, penosa indescritivelmente in­grata e desastrosa é desobedecer a Deus, e depois da experiên­cia dolorosa do pecado todas elas se conformariam natural e alegremente com a sua perfeita vontade e trilhariam seus caminhos sapientíssimos. Foi esta a experiência do Filho Pródigo.


3. Uma terceira explicação é que Deus permitiu o peca­do a fim de ter oportunidade de dar a conhecer sua justiça e sua graça, que jamais poderiam ser reveladas se no mundo não houvesse pecadores, para serem condenados, ou serem salvos. Paulo sugere isso nas seguintes passagens: “Que diremos, pois, se Deus querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu po­der, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, prepa­rados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão?” (Rom.9:22,23). “Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo... para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado... a fim de sermos para louvor da sua glória” (Ef.1:4-6, 9-12).


É interessante, porém, notar que a Bíblia jamais procura responder nossas perguntas sobre o problema do mal e do so­frimento.


No caso clássico de Jó, a única resposta que Deus lhe deu foi que, se ele não podia entender os fatos mais simples da na­tureza, como podia compreender os mistérios divinos? Todavia, deve ter sido um gozo e glória indizíveis para ele saber que seus sofrimentos contribuíram para a glória de Deus e confusão de Satanás. E note-se também que no fim tudo para Jó veio a ser melhor do que no princípio. E o mesmo acontecerá a todos quantos pertencem a Deus.


No caso do cego de nascença, temos o que podemos cha­mar “o problema do mal num caso concreto”. Cristo, no en­tanto, não procurou responder a pergunta acerca desse proble­ma, porém fez melhor, isto é, primeiro declarou que os sofri­mentos daquele homem foram permitidos para a glória de Deus, e depois o curou. E assim aprendemos que Cristo não veio para responder nossas perguntas quanto ao problema do mal, mas, muito melhor do que isso, veio para destruir o mal. Co­mo Ele disse naquela ocasião: “É necessário que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar. Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (Jo.9:4,5). E havendo dito isso, deu luz ao cego.


Cristo veio para destruir o mal, “para destruir as obras do diabo” (1Jo.3:8). Foi Ele que se tornou semente da mulher para esmagar a cabeça da serpente. E Ele fez isso mediante sua vida, morte e ressurreição (Heb.2:14). Agora Ele está à direita do Pai, aguardando o tempo fixado por Deus, em seus decretos, quando todos os seus inimigos serão postos por es­trado de seus pés (Heb.1:13). No livro do Apocalipse, onde se nos descrevem as últimas coisas, vemos o Cristo vitorioso destruindo todo o mal e toda oposição a Deus, e lançando a an­tiga serpente, que é o diabo e Satanás, no lago de fogo e enxo­fre. Será isso o fim da grande luta anunciada em Gen.3:15, fim glorioso com a vitória completa da luz sobre as trevas, da verdade sobre a mentira, da vida sobre a morte, do bem sobre o mal, de Deus sobre Satanás.


É verdade que não podemos explicar o problema intrincado do mal, mas isso não é o que mais importa: o mais importante é sabermos que o mal será destruído e no final tudo redundará na glória de Deus e no gozo e felicidade de todos quantos lhe pertencem.

Notas:
[1] L. S. Chafer, B. S., XCVI: 149, 150
[2] L. S. Chafer, B. S., XCVI: p.152

Fonte: Escolhidos em Cristo – O Que de Fato a Bíblia Ensina Sobre a Predestinação, Samuel Falcão, Ed. Cultura Cristã, 1997.
Extraído do site: [ Eleitos de Deus ]
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