quarta-feira, 25 de abril de 2012

Projeto África: Viagem a Mahatane



Projeto África: Viagem a Mahatane
No final do mês de julho/2011, mais uma vez fomos enviados para mais uma grande viagem missionária na África. Nessa nova viagem a Moçambique a missão era outra: descobrir se realmente o investimento missionário que é feito ali estava sendo executado ou realizado com amor e verdade. Saímos, então, na companhia do pastor e amigo particular Alexandre Bernardino, para mais aquela viagem que, sem dúvida nenhuma, seria incrível e emocionante.
Ao chegar a Maputo, capital de Moçambique, já se podia sentir o que nos esperava, pois ir à África, independentemente de quantas vezes, as experiências são únicas e nunca uma é igual a outra. A única coisa que é certa em viagens como essa é a simpatia do povo. É a carência do povo e um espaço enorme pronto para ser preenchido com muito amor e ternura. Na verdade eu creio que uma boa parte dos problemas que existem no continente africano pode ser resolvida com um pouco de amor e ternura. É exatamente isso que falta àqueles corações dilacerados pela falta de tudo. Tudo mesmo! Desde a comida, emprego e convívio social.
Chegamos à noite a Maputo e nos hospedamos próximo ao aeroporto, nossa jornada continuaria na madrugada seguinte, quando partiríamos em direção a Nampula, onde muitos de nossos missionários estão e onde os investimentos têm sido relevantes. Não podia faltar à nossa recepção naquele velho aeroporto aquela figura simpática do missionário Davi, que passou pela segurança e nos recebeu na área de desembarque com um sorriso gigantesco, querendo contar praticamente todas as novidades de uma só vez.
Já com nossos equipamentos em mãos nos encontramos com um grande grupo de missionários que nos aguardavam do lado de fora. Ali estava Márcia Figura com outras missionárias extremamente felizes com nossa chegada, felizes porque não são todos os dias que elas recebem visitas, principalmente brasileiros. A missionária Paula e seus dois filhos não conseguiam esconder a ansiedade de nos ver dentro de seu novo carro, carro que Davi adquiriu com muita dificuldade para nos levar às aldeias para que pudéssemos conhecer o trabalho que estavam realizando ali no interior do país. Cada um deles tinha lindas histórias em relação ao trabalho que realizam e, com certeza, seria lindo ouvir tudo.
Saindo do aeroporto fomos rapidamente em direção à grande casa que Marcia esta construindo sobre uma grande rocha, uma montanha de pedras. Já nos surpreendemos com o tamanho da construção e da forma que estava sendo feito sobre aquela rocha. A partir dali todas as dúvidas que levávamos em nossas bagagens começavam a ser esclarecidas sem que ninguém falasse nada.
Marcia nos presenteava com um sorriso enorme e com um brilho lindíssimo nos seus olhos azuis pela satisfação de nos receber em uma casa de verdade, pois em nossa ida anterior a Nampula nós a havíamos encontrado morando em um amontoado de madeiras velhas, seus filhos mal vestidos e muito enfermos. Da primeira vez ela não tinha nada a oferecer e nem sonhava em receber dois brasileiros no seu pequeno barraco. Agora era tudo diferente, uma enorme casa estava sendo edificada, e ela morando em uma pequena casa, porém muito confortável, do ladinho da nova casa.
Enquanto almoçávamos felizes na companhia das missionárias e dos filhos da Marcia, nosso sorriso foi interrompido por lágrimas quando ouvimos um depoimento de quebrantar qualquer ser humano. Marcia disse o seguinte: “Pastores, sinto-me a mulher mais feliz do mundo, realizada, e hoje tenho plena convicção de que Deus me ama muito. No ano retrasado, quando conheci vocês, eu estava passando fome com meus filhos, que esperavam os restinhos de comida de outras pessoas para comer, e aquilo me matava; eu não tinha uma moeda para comprar pão para eles. Mas, a partir do dia em que os Gideões Missionários da Última Hora nos assumiram como missionária, minha vida mudou por completa, e hoje eu comprei toda essa comida para oferecer a vocês como forma de gratidão, pois foram vocês dois os pastores usados por Deus para me encontrarem, o que mudou a minha vida, para a glória de Deus”.
Leitores, vocês não imaginam como isso foi forte nas nossas vidas. Quando olhei para o pastor Alexandre, senti que ele estava muito mais emocionado que eu, e quando nossos olhares se cruzaram foi difícil segurar o gemido. A emoção tomou conta daquela pequena cozinha e, quando percebemos, todos ali choravam de alegria por saber que Deus cumpre promessas nas vidas dos fiéis.
Creio que você já pode imaginar como terminou esse almoço. Quando olhamos no relógio, já havia do lado de fora da casa de Marcia um grupo de africanos crentes, filhos na fé da missionária, que nos esperavam para a grande viagem que ainda continuaria.
Estávamos prestes a ir em direção ao campo de refugiados de guerra em Marratane, e quando percebemos isso, aí sim, nossos corações bateram mais forte, afinal de contas fazia exatamente três anos que lá fomos pela primeira vez. Alugamos mais uma van, pois havia mais ou menos umas 25 pessoas que queriam viajar junto conosco, e só no carro do Davi não iria caber.
A caminho de Marratane, naquela longa e empoeirada estrada no meio da savana, nos silenciamos quando um irmão africano começou a falar sobre o trabalho que Marcia estava realizando ali no meio daquela miséria, no meio daquela pobreza imensa. Ali Deus começara a usar a boca daquele homem para responder todos os nossos questionamentos.
Pastores, vocês não fazem ideia de quem é essa mulher! Ela é um gigante no reino de Deus, uma pessoa que ama sem esperar recompensas nesta vida, crendo que seu galardão será na glória. Ela ajuda, sem esperar ser ajudada, procura os pobres e gasta tudo o que tem para dar comida a eles. Ela viaja dias e dias em busca dessas pessoas para falar de Jesus. Caminha a pé mais de 25 quilômetros no meio da selva, correndo perigo de morte. Quando ela consegue dinheiro, sobe nesses caminhões velhos cheio de homens, no meio de mais de setenta pessoas na carroceria do caminhão, correndo o risco de ser violentada pelo fato de ser mulher e branca, coisa que chama muito a atenção dos homens dali. Mas ela nunca desistiu, sempre amou essa gente sem conhecê-los direito, ela nunca viu dificuldades, e sim portas abertas.
Caros leitores, à medida que ele ia falando tudo isso, eu ia olhando a paisagem típica da África e imaginava Marcia no meio daquela mata, com sua pele branca sendo queimada pelo sol que é intenso e impiedoso. Durante talvez uma hora e meia ouvimos muito do que precisávamos saber. Enquanto isso nosso motorista, o missionário Davi, tentava se esquivar das árvores e troncos que impediam nossa passagem naquela pequena estrada no meio das matas. Até que chegou um momento em que a velha van não conseguiu mais entrar no estreito caminho que nos levaria até o rio onde haveria batismo. Decidimos que, se caminhássemos rápido, chegaríamos ao rio antes de escurecer. Depois de algum tempo caminhando entre galhos e uma vegetação rasteira, porém perigosa, ouvimos de longe pessoas cantando algumas músicas em dialetos locais.
Foi aí, meu irmão, que não consegui segurar minha câmera sem tremer, quando vi aquilo no meio daquela selva imensa: ao lado de um pequeno rio uma multidão de homens e mulheres cantando desde o início da manhã até àquela hora, já quase noite. O mais incrível ainda foi quando nos viram descendo o barranco: as mulheres começaram a gritar daquela forma típica que africanos gritam quando estão muito felizes. Lembro-me que a única coisa que consegui dizer com nitidez foi “Glória a Deus”. Havia um grupo enorme de pessoas já vestidos com roupas brancas nos esperando para realizar o grandioso batismo. Era o maior de que eu já participara, e “maior” quero dizer no espiritual, na emoção e na sensação de estar no lugar certo com as pessoas certas.
Eu e Alexandre trocamos de roupas, protegemos nossos equipamentos e, sem titubear um só segundo, entramos no rio para realizar não apenas o sonho daquele povo, mas o nosso também. Cada pessoa que eu batizava, sentia-me no compromisso de tomar todo cuidado do mundo, como se estivesse fazendo aquilo com minhas próprias filhas.
Naquele momento senti que eles estavam seguros em meus braços, que naquela hora poderiam ficar tranqüilos, pois nós estávamos ali para “protegê-los”. Enquanto batizávamos a noite ia chegando e não podíamos vacilar, pois o perigo era enorme naquele lugar. Chegamos já tarde na pequena pousada onde estávamos. Após um breve descanso Davi já nos chamava assim que o dia amanheceu, pois era chegado o momento de conhecer duas das aldeias que ele cuida e onde está construindo igrejas e discipulando os novos convertidos.
A primeira delas foi uma pequena aldeia chamada Ribawe, onde tivemos que ir de trem devido à distância e falta de estradas. Ali já havia uma pequena igreja em fase de acabamento e um grupo enorme de pessoas já convertidas sendo discipuladas para serem futuros missionários na região.
Nossa segunda visita foi à outra pequena aldeia, onde orgulhosamente o missionário nos apresentou uma igreja enorme, com capacidade para mais de quatrocentas pessoas, também em fase de acabamento. E nessa última igreja realizamos um grande Natal Missionário: Davi e sua esposa Paula fizeram lindos embrulhos nos presentinhos, biscoitos, balas que foram comprados para distribuirmos a todas aquelas crianças, que de longe assistiam ao culto que realizamos ainda na velha igrejinha de palha, já quase caindo.
Claro que a presença de brancos em um lugar tão pobre chamava a atenção de todos; era inevitável que as crianças se aproximassem movidos pela curiosidade e também pela chance de ganharem pelo menos um daqueles pacotinhos coloridos que estavam sendo distribuídos pelos brancos. Quando percebemos já era noite, e ali também não seria um lugar apropriado para pernoitarmos. Tivemos, então, que voltar o mais rápido possível para a casa de Davi.
Já na manhã seguinte, a preocupação era outra: comprar arroz, feijão, farinha, legumes, macarrão, pois naquele dia aconteceria algo que marcaria nossas vidas definitivamente. Locamos mais uma camioneta, pois a carga era grande; havíamos comprado comida para muita gente, embora não fizéssemos ideia de como seria isso. Só fomos descobrir quando chegamos a Marratane com as camionetes carregadas com caixas de som, guitarras, etc. Entramos com muita dificuldade e medo naquele cercado de arame farpado, e, quando ali dentro, a realidade era totalmente diferente. Sob os olhares curiosos de todo aquele povo de refugiados da Somália, Etiópia, na verdade cerca de dez países da África que hoje vivem em conflito tanto de guerra como de fome, estavam ali observando cada passo que dávamos. Muitos deles eram muçulmanos, e pelo olhar não víamos nenhuma amizade, mas sim rejeição pelo fato de sermos cristãos e estamos ali para falar de Jesus.
Caros leitores, o melhor ainda estaria por vir. Quando procuramos a igreja não a vimos, e a notícia que tivemos era que ela havia caído. Mas, ao mesmo tempo em que estávamos surpresos com essa notícia, nos surpreendemos mais ainda quando vimos sob duas grandes árvores enormes uma multidão que chegava próximo a três mil homens reunidos, esperando nossa chegada.
Quando descemos das vans, não sabíamos se sorríamos ou se voltávamos para dentro da mesma. A tensão era enorme tanto de nossa parte como da deles. Primeiro, eles queriam saber exatamente o que faríamos e se estávamos levando alguma coisa para eles (essa “alguma coisa” era comida. Levamos, sim, mas nem de longe seria o suficiente para todo aquele povo. Por esse motivo a tensão crescia a cada momento, porque sabíamos que aquilo não daria certo. Mesmo com aquele nervosismo cantamos muito, pois tudo que um africano naquela situação pode fazer de verdade é cantar. Assim que comecei a ministrar a palavra de Deus, notava que era correspondido, cada palavra era aceita com muito fervor. Quando decidi orar por todas aquelas pessoas, fui exatamente até onde eles estavam para ficar mais próximo no momento da oração. Foi então, caros leitores, que eu vi o sobrenatural de Deus acontecer, quando fiz o apelo para que alguém viesse a Jesus. Ninguém conseguiu contar com exatidão, mas mais de duas mil pessoas se curvaram ao Mestre Jesus Cristo. E o mais incrível era que eles gritavam em busca de um socorro imediato. Senti ali o grande milagre, eu estava ministrando para centenas de pessoas que acabara de chegar da Somália, Etiópia, Gongo e outros países próximos daquele campo. Muitos familiares daqueles que estavam ali haviam morrido de fome, de sede ou de malária no caminho. Muitos não tinham sequer mais esperanças e o único que lhes restavam era apenas a fé, que parecia morta dentro de cada um deles.
Dentro daquele campo, a grande maioria possui o vírus HIV, outros estavam “infectados”, na verdade, com a decepção da vida, e por outra doença que mata mais rápido ainda: o abandono.
Naquela hora, pude sentir as mãos do Senhor Jesus curando, libertando e acendendo uma luz no fim do túnel. Quando eu ainda estava no meio deles com o pastor Alexandre Bernardino impondo nossas mãos em cada cabeça, orando quase que por todos eles, vimos que eles começaram a se levantar como que em uma ordem, e nos foram cercando por todos os lados, e conforme se aproximavam cantavam um só cântico, com tanta força que se ouvia de muito longe. Sou sincero em escrever isso: meu corpo nunca se arrepiou tanto como naquele momento. Senti uma coisa que jamais havia sentido em toda a minha fé. Foi a maior experiência que vivi com Deus em toda a minha vida.
Meus irmãos, sei que tudo que tentar dizer aqui não será o suficiente para fazer com possam viver essa emoção. Por esse motivo, tudo o que acabei de dizer, e coisas que nunca conseguirei, estão registrados no mais novo DVD: Marratane, o campo de refugiados de guerra na África.
Adquira-o e viva uma das mais emocionantes viagens já realizadas à África.
Deus abençoe a todos.
Ivandro Morim

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