Nós
estamos tão acostumados a falar sobre a influência do Espírito Santo e Suas
sagradas operações e graças, que nós somos capazes de esquecer que o Espírito
Santo é verdadeira e certamente uma pessoa – que ele é uma subsistência – uma
existência; ou, como nós Trinitarianos usualmente dizemos, uma pessoa na
essência da divindade. Eu tenho medo de, ainda que nós não saibamos disso, que
tenhamos adquirido o hábito de ver o Espírito Santo como uma emanação que flui
do Pai e do Filho, mas não como sendo Ele mesmo realmente uma pessoa. Eu sei
que não é fácil levar em nossas mentes a idéia do Espírito Santo como uma
pessoa. Eu posso pensar sobre o Pai como uma pessoa, porque Seus atos são de
modo a que eu possa compreender. Eu o vejo pendurar o mundo no éter; eu o
contemplo enfaixando em fraldas um mar recém nascido, com faixas de trevas; eu
sei que foi Ele quem formou as gotas do granizo, quem levou por frente as
estrelas pelos seus exércitos, e as chamou pelos seus nomes; eu posso concebê-lo
como uma pessoa porque eu contemplo o que Ele opera. Eu posso dar conta de que
Jesus, o Filho do Homem, é uma pessoa real, porque Ele é osso dos meus ossos e
carne da minha carne.
Não
é preciso estender por demais a imaginação para retratar o recém nascido em
Belém, ou contemplar o “Varão de Dores conhecendo a tristeza,” do rei dos
mártires, como Ele foi perseguido no pátio de Pilatos, ou pregado no maldito
madeiro pelos nossos pecados. Nem encontro dificuldade às vezes em visualizar a
pessoa do meu Jesus sentado em seu trono no céu; ou cingido de nuvens e usando
o diadema de toda a criação, chamando a terra para julgamento, e convocando-nos
para recebermos nossa sentença final. Mas quando eu tenho que tratar com o
Espírito Santo, suas operações são tão misteriosas, Seus feitos são tão
secretos, Seus atos são tão distantes de qualquer coisa que tenha sentido, e do
corpo, que eu não posso tão facilmente alcançar a idéia de Ele ser uma pessoa;
mas uma pessoa Ele é. Deus Espírito Santo não é uma influência, uma emanação,
uma corrente de alguma coisa fluindo do Pai; mas Ele é uma pessoa tão real como
o Deus Filho ou Deus Pai. Eu tentarei um pouco nessa manhã estabelecer a
doutrina, e mostrar-lhes a verdade dela – que Deus o Espírito Santo é na
verdade uma pessoa.
A
primeira prova nós vamos coletar na piscina do santo batismo. Deixe-me
mergulhá-lo, como tenho mergulhado outros, na piscina, agora velada, mas que eu
desejaria que estivesse sempre aberta aos olhos de vocês. Deixe-me levá-los à
fonte batismal onde os crentes põe sobre si o nome do Senhor Jesus, e você me
ouvirá pronunciar as solenes palavras: “Eu te batizo em nome do Pai”, - marque
, “no nome” não nomes –“do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Qualquer um
que seja batizado pela verdadeira forma registrada nas Escrituras, tem que ser
um Trinitariano: de outro modo o seu batismo é uma farsa e uma mentira, e ele
próprio é achado um enganador e um hipócrita diante de Deus. Como o Pai é
mencionado, como o Filho é mencionado também o é o Espírito Santo; e o todo é
somado como uma Trindade em unidade, mas como já foi dito, não os nomes, mas o
“nome”, o glorioso nome, o nome de Jeová “do Pai, do Filho e do Espírito
Santo”. Deixe-me lembrar-lhes que a mesma coisa acontece cada vez que vocês se
dispersam dessa casa de oração. Ao pronunciar a benção solene de encerramento
nós invocamos em vosso benefício, o amor de Jesus Cristo, a graça do Pai, e a
comunhão do Espírito Santo; e assim, de acordo com a maneira apostólica, nós
fazemos uma manifesta distinção entre as pessoas, mostrando que nós acreditamos
que o Pai é uma pessoa, que o Filho é uma pessoa e que o Espírito Santo é uma
pessoa. Se não houvessem outras provas nas Escrituras, eu penso que essas
seriam suficientes para qualquer homem sensato. Ele veria que se o Espírito
Santo fosse uma mera influência, não seria mencionado em conjunção com dois a
quem nós confessamos serem pessoas próprias e verdadeiras.
Um
segundo argumento se levanta do fato de que o Espírito Santo tem feito
diferentes aparições sobre a terra. O Grande Espírito tem se manifestado ao
homem: Ele tem tomado uma forma, assim que, conquanto Ele não tenha sido
contemplado pelos homens mortais, Ele tem assim velado na aparência em que Ele
tem sido visto, tanto quanto aquela aparência estava ligada, pelos olhos de
todos que o contemplassem. Você vê Jesus Cristo Nosso Salvador? Há o rio
Jordão, com seus barrancos em rampa e seus graciosos salgueiros na sua margem.
Jesus Cristo, o Filho de Deus, desce até a corrente de água, e o Santo João
Batista, o mergulha nas ondas. As portas do céu estão abertas; uma miraculosa
aparição se apresenta; uma forte luz brilhou do céu, mais brilhante que o sol
em toda a sua grandeza, e descendo em uma torrente de glória vem alguma coisa
que vocês reconhecem como sendo uma pomba. Ela pousa em Jesus – ela senta sobre
Sua sagrada cabeça, e como os antigos pintores punham um halo em volta da testa
de Jesus, assim o Espírito Santo derramou uma resplandecência em volta da face
daquele que veio cumprir toda a justiça e, portanto, começar com a ordenança do
batismo. O Espírito Santo foi visto como uma pomba, para marcar Sua pureza e
Sua gentileza, e Ele desceu como uma pomba para mostrar que é somente do céu
que Ele desce. Essa não é a única vez em que o Espírito Santo se manifestou em
uma forma visível. Veja aquele agrupamento de discípulos juntos em um cenáculo;
eles estão esperando por alguma benção prometida, e paulatinamente ela virá.
Oh! Há o som de um forte vento; ele enche toda a casa onde eles estão sentados;
e atônitos eles olham à sua volta, imaginando o que vai acontecer em seguida.
Logo aparece uma forte luz, brilhando sobre a cabeça de cada um deles: línguas
de fogo pousam sobre as suas cabeças. O que eram essas maravilhosas aparições
de vento e labaredas senão uma demonstração do Espírito Santo em Sua própria
pessoa? Eu digo que o fato de uma aparição manifesta que Ele tem que ser uma
pessoa. Uma influência não pode aparecer – um atributo não pode aparecer: nós
não podemos ver atributos – nós não podemos contemplar influências. O Espírito
Santo, portanto, tem que ser uma pessoa; uma vez que Ele foi visto por olhos
mortais, e desceu à percepção da compreensão mortal.
Outra
prova vem do fato de que, nas Escrituras, qualidades pessoais são atribuídas ao
Espírito Santo. Primeiro deixe-me ler para vocês um texto no qual é dito que o
Espírito Santo tem. Na 1ª Epístola aos
Coríntios, capítulo 2:9 você lê: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem
jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.
Mas Deus no-lo revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito a todas as coisas
perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as
coisas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim, também as
coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus”. Aqui você vê um
entendimento – um poder de conhecimento é atribuído ao Espírito Santo. Agora,
se existem aqui algumas pessoas cujas mentes são de tão absurda compleição que
eles deveriam atribuir uma qualidade a uma outra pessoa, e se falaria de uma
mera influência tendo entendimento, então eu abandono to do o argumento. Mas eu
acredito que todo o homem racional irá admitir, que quando se diz que alguma
coisa tem entendimento, ela tem que ter uma existência – ela tem que de fato
ser uma pessoa. No capítulo 12 versículo 11 da mesma Epístola, você vai
encontrar uma atribuída ao Espírito Santo. “Mas um só e o mesmo Espírito
realiza todas essas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um,
individualmente”. Portanto está claro que o Espírito Santo tem uma vontade. Ele
não vem de Deus simplesmente na vontade de Deus, mas Ele tem uma vontade
própria dEle mesmo, que é a de sempre guardar a do infinito Jeová, mas é,
contudo, distinta e separada; portanto eu digo que Ele é uma pessoa. Em outro
texto, é atribuído ao Espírito Santo, e poder é uma coisa que só pode ser
atribuído a uma existência. Em Romanos 15: 13 está escrito: “E o Deus da
esperança vos encha de todo gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de
esperança no poder do Espírito Santo.” Eu não preciso insistir sobre isso,
porque é auto evidente, que onde quer que você encontre entendimento, vontade e
poder, você deve encontrar também uma existência; não pode ser um mero
atributo, não pode ser uma metáfora, não pode ser uma influência personificada;
mas tem que ser uma pessoa.
Mas
eu tenho uma prova que, talvez, lhes dirá mais que qualquer outra. Atos e
necessidades são atribuídos ao Espírito Santo; portanto Ele te que ser uma
pessoa. Você lê no primeiro capítulo do Livro de Gênesis, que o Espírito
pairava sobre a terra, quando tudo era ainda desordem e confusão. Esse mundo já
foi uma massa de matéria caótica, não havia ordem; era como o vale das trevas e
da sombra da morte. Deus o Espírito Santo abriu as Suas asas sobre a terra;
semeou nela as sementes da vida; os germes dos quais todos os seres nasceram
foram implantados por Ele; Ele impregnou a terra de modo que ela se tornou
capaz para a vida. Agora, só pode ter sido uma pessoa que pôs ordem na confusão:
tem que ter sido uma existência que pairava sobre esse mundo e fez dele o que
ele é agora. Mas nós não lemos nas Escrituras alguma coisa mais do Espírito
Santo? Sim, nos disseram que “santos homens do passado falavam na medida em que
eram movidos pelo Espírito Santo.” Quando Moisés escreveu o Pentateuco, o
Espírito Santo moveu a sua mão; quando Davi escrevia os Salmos, e dedilhava
doce música em sua harpa, era o Espírito Santo quem dava aos seus dedos aqueles
movimentos angelicais; quando Salomão derramava de seus lábios as palavras dos
provérbios da sabedoria, ou quando ele versejava os Cânticos do amor, era o
Espírito Santo que dava a ele palavras de conhecimento e hinos de causar
êxtase.
Ah!
E que fogo foi aquele que tocou os lábios do eloqüente Isaías? Que mão foi
aquela que veio sobre Daniel? E que poder era aquele que fez Jeremias tão
queixoso em sua profunda tristeza? E que foi aquilo que deu asas a Ezequiel, e
o fez como uma águia, subir para mistérios muito altos, e ver o poderoso
desconhecido além do nosso alcance? Quem foi que fez de Amós o vaqueiro um
profeta? Quem ensinou o rude Ageu a pronunciar suas sentenças trovejantes? Quem
mostrou a Habacuque os cavalos de Jeová marchando através das águas? Ou quem
acendeu a chamejante eloqüência de Naum? Quem fez Malaquias encerrar o seu
livro com o sussurro da palavra maldição? Quem foi, em cada um desses casos, a
não ser o Espírito Santo? E não seria necessário ser uma pessoa quem falou
nessas e através dessas antigas testemunhas? Nós temos que acreditar. Nós não
podemos evitar de acreditar, quando nós lemos que “homens santos da antiguidade
falavam na medida em que eles eram movidos pelo Espírito Santo.”
E
quando foi que Espírito Santo deixou de ter influência sobre o homem? Nós
descobrimos que Ele ainda trabalha com Seus ministros e com todos os Seus
santos. Abra em Atos e você vai encontrar o que o Espírito Santo disse:
“Separem-me Paulo e Barnabé para a obra.” Eu nunca ouvi falar de um atributo
dizendo tal coisa. O Espírito Santo disse a Pedro: “Vá ao Centurião, e ao que
eu purifiquei não chames de coisa imunda.” O Espírito Santo levou embora Felipe
depois de ter ele batizado o eunuco, e o carregou para outro lugar; e o
Espírito Santo disse a Paulo: “tu não irás àquela cidade, mas tornarás para uma
outra.” E nós sabemos que Ananias e Safira mentiram ao Espírito Santo, quando
lhes foi dito: “Vós não mentiste para homens, mas para Deus.”
Novamente,
o poder que sentimos todos os dias, que somos chamados a pregar – aquele
encanto maravilhoso que torna os nossos lábios tão potentes – aquele poder que
nos dá pensamentos que são como aves vindas de uma região distante, não as
naturais da nossa alma – aquela influência que eu sinto de modo estranho, que
se não me dá poesia e eloqüência, me dá um poder que nunca antes eu senti, e me
eleva acima dos meus semelhantes – aquela majestade com a qual ele veste seus
ministros, até no meio da batalha eles gritam ahá! Como o cavalo de guerra de
Jó, e se movem como leviatãs na água – aquele poder que nos dá força sobre os
homens, e faz com que eles se sentem e ouçam como se seus ouvidos estivessem
acorrentados, como se eles estivessem encantados pelo poder de alguma varinha mágica
– esse poder tem que vir de uma pessoa; ele tem que vir do Espírito Santo.
Mas
as Escrituras não dizem, e nós não sentimos, queridos irmãos, que é o Espírito
Santo quem regenera a alma? É o Espírito Santo que nos estimula. “E a vós, que
estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão de vossa carne,
vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos”.
Colossenses 2:13. É o Espírito Santo quem distribui o primeiro germe de vida,
nos convencendo do pecado, da justiça e julgamento que virão. E não é o
Espírito Santo que, depois que a chama é acendida, ainda assopra com o alento
da Sua boca e a mantém viva? Seu autor é Seu mantenedor. Oh! Pode-se dizer que
é o Espírito Santo quem luta dentro da alma dos homens; que é o Espírito Santo
quem os traz para dentro do lugar de delícias que é o Calvário – pode-se dizer
que Ele faz todas essas coisas, e ainda não é uma pessoa? Pode-se dizer, mas
tem que ser dito por tolos; porque nunca pode ser considerado um homem sábio
aquele que considerar essas coisas possíveis de serem realizadas por outra
senão uma pessoa gloriosa – uma Divina existência.
Permitam-me
lhes dar mais uma prova, e eu darei por terminado. Certos sentimentos são
atribuídos ao Espírito Santo, que só podem ser compreendidos somente sobre a
suposição de que Ele seja realmente uma pessoa. No 4º capítulo de Efésios,
versículo 30, diz que o Espírito Santo pode ser entristecido: “E não
entristeçais o Espírito de Deus, no qual foste selado para o dia da redenção”.
Em Isaías, capítulo 63, versículo 10, diz que o Espírito Santo pode ser
envergonhado: “Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Santo Espírito,
pelo que se lhes tornou em inimigo e ele mesmo pelejou contra eles”. Em Atos
capítulo 7, versículo 51, se lê que o Espírito Santo pode ser resistido:
“Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre
resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o
fazeis”. E no 5º capítulo, versículo 9, do mesmo livro, você vai encontrar que
o Espírito Santo pode ser tentado. Nós somos informados que Pedro disse a
Ananias e Safira: “Porque entraste em acordo para tentar o Espírito do Senhor?”
Agora, essas coisas não poderiam ser emoções para serem atribuídas a uma
qualidade ou emanação; elas têm que ser entendidas como relacionadas a uma
pessoa; uma influência não pode ser entristecida, tem que ser uma pessoa para
que possa ser entristecida, contristada ou resistida.
E
agora, queridos irmãos, eu acho que tendo estabelecido por completo a questão
da personalidade do Espírito Santo; permitam-me agora, com a maior seriedade,
imprimir sobre vocês a absoluta necessidade de estar firmes na doutrina da
Trindade. Eu conheci um homem, ele é agora um bom ministro de Jesus Cristo, e
acredito que ele o era antes de ter virado os olhos para a heresia – ele
começou a duvidar da gloriosa divindade do nosso bendito Senhor, e por anos ele
pregou a doutrina heterodoxa, até que um dia aconteceu de ele ouvir pregando um
velho ministro muito excêntrico sobre o texto, “Mas ali, o nos será grandioso,
fará as vezes de rios e correntes largas; barco de remo nenhum passará por
eles, navio grande por eles não navegará. Seu cordame está solto; eles não
podem bem firmar o mastro, eles não podem abrir as velas”. “Agora”, disse o
velho ministro, “vocês abandonem a Trindade, e o seu cordame estará solto,
vocês não podem firmar os seus mastros. Uma vez abandonada a doutrina das três
pessoas, o cordame todo se foi; seu mastro, que devia ser um suporte para sua
embarcação, é um esqueleto descalcificado, e treme”. Um Evangelho sem a
Trindade! É uma pirâmide construída sobre o seu pico. Um Evangelho sem a
Trindade! É uma corda de areia que não pode se sustentar. Um Evangelho sem a
Trindade! Então certamente, Satã pode derrotá-lo. Mas dê-me um Evangelho com a
Trindade, e o poder do inferno não poderá prevalecer contra ele; nenhum homem
poderá despedaçá-lo mais do que uma bolha dividir uma pedra, ou uma pluma
dividir ao meio uma montanha. Apegue-se a o pensamento das três pessoas, e você
terá a medula de toda a Divindade. Apenas conheça o Pai, e conheça o filho e
conheça o Espírito Santo como sendo um e todas as coisas parecerão claras. Essa
é a chave de ouro para os segredos da natureza; esse é o fio de seda para os
labirintos do mistério, e quem compreende isso, cedo compreenderá tanto quanto
aos mortais é dado saber.
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