terça-feira, 3 de abril de 2012

O Estilo do Livro Apocalipse

O Estilo do Livro Apocalipse:

O estilo do livro

Apocalipse e o títuloalternativo Revelação vêm das palavras grega e latina que significam“desvendar”. O nome Apocalipse foi dado a toda uma classe da literatura judaicaque surgiu principalmente entre os anos 200 a.C. e 100 d.C., conhecida por“literatura apocalíptica”. É comumente aceito que a Bíblia contém exemplosdesse tipo de literatura, especialmente os livros de Daniel e o Apocalipse deJoão.

Uma comparação entreo Apocalipse de João e outros escritos não-bíblicos deste tipo, de fato, mostramuitas afinidades entre si. Ver­dades que não podem ser descobertas porinvestigação normal (por exemplo o futuro, ou coisas do reino espiritual) sãoreveladas geral­mente através da mediação de anjos, em meio a cores vividas,tais como estrelas e montanhas, monstros e demônios, e esquemas complexos denúmeros.

Este tipo desimbolismo é óbvio no livro de João. Mas é notável a ausência de certascaracterísticas da literatura apocalíptica. Os escritores da literatura apocalípticageralmente atribuíam suas visões a algum famoso personagem do passado, como sefossem Enoque ou Esdras descrevendo o que eles haviam visto. Mas o Apocalip­seafirma ter sido escrito por João que, mesmo que fosse um pseudô­nimo,não combina com o estilo da literatura apocalíptica. O livro se apresenta comouma profecia (1:3) e conta com a atividade de Deus e a resposta moral dohomem como partes integrantes da vida atual, da mesma forma como os antigosprofetas fizeram, o que não ocorre na literatura apocalíptica.

 Mas,em um sentido mais profundo, há semelhanças importan­tes. O solo que produziu Enoque,Esdras e outros foi uma comuni­dade judaica extremamente consciente de suacondição precária em meio a um mundo cheio de grandes potências inimigas. A vozdesses escritores era a da minoria oprimida, exigindo em vão seus direitos econfortando-se com a perspectiva de ser vindicada no futuro. Todos osescritores apocalípticos, como João, viram as coisas bem contras­tadas, “empreto e branco”, por assim dizer. Eles eram, ao mesmo tem­po, extremamentepessimistas, para os quais as coisas iam tão mal que somente Deus poderiaconsertá-las. E no outro extremo eram com­pletamente otimistas, olhando para ofuturo, quando Deus agiria con­sertando todas as coisas.


Essa atitude,acompanhada de muitas outras características tí­picas do estilo apocalíptico, éclaramente refletida por João quando ele escreveu o Apocalipse. “O Deus dosespíritos dos profetas” colo­cou juntos o homem e o método, e o resultado foi umlivro destinado (com uma eficiência divina) a relembrar a outra minoriaoprimida, a igreja cristã, de como as coisas são, realmente, no reinoespiritual.

As circunstâncias dolivro

O Apocalipse foienviado como uma carta circular às igrejas existen­tes em sete cidades da ÁsiaMenor, e deveria ser lido em voz alta nas reuniões. Era uma mensagem dirigidaàs necessidades reais do povo do primeiro século. As igrejas já haviam sidoestabelecidas há tempo suficiente para que demonstrassem uma gama variada de condiçõesespirituais, que ia da constante devoção até uma decadente lassidão. Por isso,a mensagem do Apocalipse é dupla. A mensagem trouxe estímulo, duma maneiratipicamente apocalíptica, aos cristãos que estavam sob grande pressão,assegurando-lhes que os inimigos seriam destruídos e que no final Deustriunfaria. Por outro lado, agora não mais em estilo apocalíptico, e simprofético, o Apocalipse desafia os cristãos a combater as sutis forças do mal,mesmo que estas se encontrem dentro de si mesmos. Satanás deve ser vencido e aCristo deve ser dado o lugar que por direito lhe pertence, aqui e agora, navida espi­ritual e moral dos cristãos.

O Império Romano,poderoso em muitos sentidos, tinha entre suas práticas uma que se tornou acausa fundamental das grandes provações experimentadas pela igreja, noprincípio. Essa prática era a “adoração ao imperador”, que obrigava umcrescente número de cristãos a fazer uma escolha pública entre César e Cristo.Todas as épocas têm um teste equivalente para provar a verdadeira lealdadecristã. Para os cristãos do tempo de João, o teste era serem perseguidos emartirizados.

 Estasituação de perseguição sofrida pelas igrejas descritas no Apocalipse servecomo ponteiro para nos ajudar a determinar a data do livro. Certamente o livrofoi escrito quando a igreja estava bem estabelecida, mas também o pior daperseguição estava ainda por desabar sobre ela.

 Algunsestudiosos combinam esses fatores com cálculos basea­dos nas declaraçõesencontradas em 13:18 ou 17:10, para afirmar que o livro foi escrito no final doreinado de Nero (de 54-68 d.C.) ou du­rante o de Vespasiano (69-79 d.C.), o queé menos convincente. As evi­dências mais fortes parecem favorecer uma dataposterior, durante a última parte do reinado de Domiciano (81-96 d.C.)

Dessa forma, se aopinião tradicional acerca da autoria do livro é correta, tendo sido de fatoescrito por João, este estaria pelos oiten­ta anos de idade quando teve a visãoem Patmos. Não há nada, no contexto, contra esta posição. Moisés, outro grandeprofeta, teve a primeira visão da glória de Deus quando estava com oitenta anos(Atos 7:23-24). Mas há outras razões pelas quais há dúvidas acerca da autoriaapostólica. Os argumentos são centralizados na relação existente entre os cincolivros atribuídos ao apóstolo João (o Evangelho, as três Epístolas e oApocalipse), e na possível existência de uma segunda e até mesmo uma terceirapessoa com o mesmo nome. Guthrie conclui suas quinze páginas de discussão sobreo assunto com as seguintes pa­lavras: “Extrair algo conclusivo ou mesmosatisfatório de toda uma massa de conjecturas parece ser impossível. A linhamais segura de evidência parece mesmo ser a da tradição de que João, oapóstolo, foi quem escreveu o livro. Pelo menos, se esta afirmação é correta,ela ex­plica o aparecimento da tradição, o que nenhuma das outras faz sa­tisfatoriamente.Ainda assim muitos preferem deixar a questão da au­toria em aberto.” Dequalquer forma, o “João” do Apocalipse faz a reivindicação apostólica de que,apesar de ser o escritor do livro, o autor verdadeiro não é outro senão oSenhor Jesus Cristo. “Não há nenhum outro livro nas Escrituras que comece compalavras tão so­lenes; nenhum que faça uma afirmação tão contundente de sua ins­piraçãocomo o Apocalipse o faz!”

A interpretação dolivro

Mas o quê — e esta éa pergunta mais importante — o que significa isso? As inumeráveis tentativaspara explicar o Apocalipse podem ser classificadas de várias formas. São muitasas opiniões acerca de sua estrutura. Lutero tinha muita razão quando disse:“Cada um pensa deste livro qualquer coisa que lhe seja revelada por seu próprioespí­rito.” As opiniões acerca dos fatos históricos descritos no livro são, emtermos gerais, de quatro tipos: a visão preterista,segundo a qual o Apocalipse descreve em linguagem velada os eventosrelacionados aos dias de João, e nada mais; a visãofuturista, segundo a qual o li­vro todo é uma profecia de eventos aindapor acontecer; a visão historicista,segundo a qual o livro é uma descrição da totalidade da his­tória da igrejadesde a primeira vinda de Cristo até a segunda, indo um pouco além disso; e a visão idealista, segundo a qual, entre men­sagenspara a igreja do primeiro século e profecias acerca do tempo futuro, oApocalipse mostra princípios sempre válidos na experiên­cia cristã. As opiniõestambém estão divididas acerca da questão do “milênio”, o período de mil anosdescrito no capítulo vinte; pré-milenismo, pós-milenismoe amilenismo que veremos no decorrer do trimestre em areiabranca.com.

É impossível a umcomentarista não adotar um desses pontos de vista, do contrário seu comentáriose torna água com açúcar. Esta ex­posição do Apocalipse adota, como não poderiadeixar de ser, uma determinada escola de interpretação que se tornará evidentea todos aqueles que entendem deste assunto. E isso, não tanto por defendercertas ideias preconcebidas, mas porque a leitura honesta do livro pa­receapontar uma direção determinada. No entanto, procuro evitar o uso irritante deexpressões do tipo “é claro que” e “é óbvio que”, em afirmações que, parapessoas de outros pontos de vista, não pareçam tão claras e nem sejam tãoóbvias!

O uso do livro

A convicção de que oApocalipse realmente pretende revelar a verdade, e não obscurecê-la, eque seus tesouros realmente se encontram à superfície — bastando procurá-losusando a luz adequada — não é, de ma­neira alguma, o mesmo que dizer que osignificado do livro ressaltará para nós com toda clareza, com precisão e comlógica. É evidente que Deus não despreza a comunicação verbal, porque seupróprio filho foi chamado de “o Verbo”. Mas as palavras de Deus, suasdeclarações, argumentos e raciocínios foram manifestados quando João seencontrava na ilha de Patmos. O que Deus reservou como revelação final de suavon­tade para com o homem são palavras de um tipo diferente das anterio­res: arevelação em Patmos é uma palavra dramatizada, uma palavra ativa, pintada epreparada para ser executada como uma sinfonia: uma pala­vra que pode servista, sentida e experimentada.

Não há nenhumavantagem em ler o Apocalipse como se fosse um tratado teológico ao estilo dePaulo apenas usando um vocabu­lário diferente, ou como uma história projetadapara o futuro, ao es­tilo de Lucas. Pode-se analisar um arco-íris, o vinho dacomunhão e até a água do batismo. Mas essas coisas não são para serem analisa­das,e sim, para serem usadas e apreciadas.

 Nós,que estamos no século XXI, precisamos entender isso melhor do que todos osoutros. Vivemos em uma era pós-literária que, cansada de palavras, começa acomunicar-se nova­mente através de figuras. Assim, a televisão substitui orádio, e o subs­tantivo “imagem” volta a ser utilizado com várias conotaçõesmoder­nas. Deus sabia disso tudo desde o princípio. E como seus filhos járeceberam muito de teologia sistemática, Deus agora oferece um ma­ravilhosolivro de figuras para ser apreciado, tão educativo quanto os outros, apenas demaneira diferente.

Figuras, potentesimagens da verdade cristã para serem usadas, é isso que nos é oferecido noApocalipse. Isso é bem evidente quando nos lembramos do fascínio “pararefrescar o espírito” que Lucy Pevensie encontrou no Livro Mágico.
Quando o livro sefechou, o fas­cínio começou a desaparecer de sua mente até que ela só conseguiulembrar-se de que a visão “era acerca de uma taça, uma espada, uma árvore e umacolina verde.” São as imagens que permanecem. As páginas do Apocalipse estãorepletas de imagens para que a nossa ima­ginação, bem como as nossas mentes,possam captar os conceitos-chaves da fé cristã. Assim, até que o noivo retorne,até que a Jerusalém celestial desça do céu, e até que raie o dia do casamento,devemos fa­zer isso, em memória do Senhor.

Bibliografia M. Wilcock

Elaboração pelo:- EvangelistaIsaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia deDeus Ministério Belém Em Dourados – MS

Lições bíblicas BETEL 2012

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